Liturgia revaloriza bênção do Crisma
O Sacramento da Confirmação, mais que outros, recebeu especial conotação litúrgica pela promulgação do novo ritual ou “Ordo” para a bênção dos Santos Óleos (Ordo benedicendi Oleum catechumenorum et nifirmorum et conficiendi Chrisma, publicado pela Poliglota Vaticana, 1970). Seu histórico, variantes e significação foram comentados pelo Mons. A. Bugnini em L’Osservatore Romano (Ed. Set. ital. 11.III.1971).
A missa do Crisma, na qual o Bispo, cercado de seu clero, realiza as bênçãos, tem sido objetivo de particular interesse nos últimos anos, por causa de seu sentido pastoral. Os Santos Óleos são usados não só na administração dos Sacramentos do Batismo, da Confirmação, da Unção dos enfermos e na Ordenação dos Presbíteros e Bispos, como também nas consagrações dos objetos destinados ao culto: os vasos sagrados, os sinos, os altares, os templos etc. Desde 1965, restaurando-se o rito da concelebração da missa, o cerimonial dessas bênçãos foi admitindo vários retoques. Aí se manifesta primeiramente a plenitude do poder sacerdotal do Bispo, “do qual depende em certo modo, a vida espiritual dos seus fiéis” (Sacros. Conc. 41). Depois, já que o Bispo vem acompanhado nesse ato pelos sacerdotes que com ele concelebram a Missa, também se mostra de maneira admirável a união estreita do clero com o Pastor da Igreja local.
Dentre os novos elementos fixados agora, por ordem do Papa, na Liturgia do novo “Ordo” da S. Congregação par o Culto Divino, destacamos o seguinte:
1 – MATÉRIA. A legislação precedente exigia que só se usasse o óleo de oliveira, pelo seu significado tradicional e simbolismo bíblico. Por razões práticas, entretanto, onde for difícil obtê-lo, permite-se aqui empregar qualquer outro óleo vegetal. Além do sobredito óleo, o crisma incluía certo bálsamo oriental, simbolizando o bom odor da virtude cristã. Sem perder a característica de aromático, esse bálsamo pode doravante ser substituído por outra substância perfumada.
2 – MINISTRO. A consagração do Santo Crisma, segundo antiquíssima tradição da Igreja, se reserva exclusivamente ao Bispo. Mas a bênção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos, em caso de urgência ou dificuldade, pode ser dada pelo próprio sacerdote que vai administrar o Batismo e a Unção dos enfermos.
3 – DIA DA BÊNÇÃO. Ordinariamente continua sendo a 5ª Feira Santa, pelo duplo significado da relação íntima com o mistério pascal e com a instituição do Sacerdócio, que se comemoram nesse dia da Semana Maior. Todavia, quando houver impedimento para a reunião de padres com o Bispo, este poderá escolher outro dia, perto da Páscoa para a concelebração e bênçãos dos Santos Óleos.
4 – RITO. Foi bastante simplificado. Dá-se importância à procissão do Ofertório, na qual, juntamente com o pão e o vinho se levam os óleos a serem benzidos. Para o Santo Crisma, como para cada um dos outros óleos, reza-se uma só oração, ou na mesma hora que antes, ou as três conjuntamente, depois da Liturgia da Palavra. (…)
Particularmente expressiva e bela a consagração dos Crisma, na qual os sacerdotes concelebrantes manifestam sua participação estendendo a mão direita, enquanto o Bispo pronuncia a parte mais importante da fórmula, que diz: – “Ó Deus que instituístes os sacramentos e nos dais a vida, nós rendemos graças ao vosso amor inefável. Prefigurastes na Antiga Aliança o mistério do óleo que santifica; e quando veio a plenitude dos tempos, quisestes que no vosso dileto Filho esse mistério brilhasse em plena luz. Cristo, o vosso Filho e Senhor nosso, depois de ter salvo os homens com seu mistério pascal, encheu vossa Igreja do Espírito Santo e a enriqueceu maravilhosamente com os dons celestes, a fim de que levasse a bom termo no mundo a obra da salvação. Vós, no sinal sacramental do Santo Crisma, dispensais aos homens a riqueza de vossos dons, para que os vossos filhos, renascidos na água do Batismo, recebam com a unção a força do vosso Espírito e, tornando-se semelhantes a vosso Cristo, participem da sua dignidade profética, sacerdotal e régia.
“Nós vos suplicamos, pois, ó Senhor, que, na força de vossa graça, esta mistura de óleo e de perfume se torne para nós um sinal sacramental de vossa bênção. Abençoai nossos irmãos que vão receber a unção deste crisma; infundi-lhes com largueza os dons do Espírito Santo. Fazei brilhar o esplendor de vossa santidade, sobre os lugares e os objetos que forem ungidos com este óleo Santo. Por meio deste unguento aumentai sobretudo e aperfeiçoai a vossa Igreja, para que se difunda e atinja aquela plenitude pela qual vós, no esplendor da luz eterna, sereis tudo em todos, com Cristo, no Espírito Santo, pelos séculos sem fim.”
Oxalá essa graça peculiar que recebemos no dia em que fomos crismados, com o caráter indelével de soldados de Cristo, reviva e frutifique cada vez mais em nossos dias, quando a Fé Católica nos está exigindo testemunhos frequentes de fortaleza cristã! Isto espera de nós o último Concílio, tendo declarado: “Pelo Sacramento da Confirmação, os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja, recebem especial vigor do Espírito Santo, e ficam assim mais estritamente obrigados, como testemunhas verdadeiras de Cristo a difundir e defender a fé, tanto por palavras como por obras. (Lumen Gentium, 11).
Republicação de artigo do periódico A Cruz (RJ), de 21.03.1971 por iniciativa da Biblioteca Histórica (Igreja Bom Jesus).