Missão Romana dos Jesuítas em Itu – Padre Augusto Servanzi
Entre as relíquias do Museu Capela da UNISINOS (RS) está um cálice, presente do papa Leão XIII ao padre Servanzi. O missionário visitou o pontífice em 26 de outubro de 1878, quando retornava ao Brasil após completar o último ano de sua formação regular, em Roma. Direcionado ao Colégio de Florianópolis, ali esteve por meses até ser nomeado para dirigir nova missão entre colonos italianos, em Nova Trento, que teve início com a sua chegada a 14 de dezembro de 1879. Coube-lhe também estar na pequena Vígolo, onde benzeu a capelinha de São Jorge. Periodicamente visitava a comunidade e hospedava-se na casa de Napoleão Visintainer. Notou que a filha do casal, Amábile e a amiguinha, Virgínia, demonstravam disposição para grandes tarefas; confiou-lhes a catequese, o cuidado com os doentes e com a capela. Certo dia perguntou a Amábile se queria ser freira e ela aceitou maravilhada. Assim Servanzi começou a talhar a alma daquela que seria a primeira santa do Brasil, Madre Paulina.
Augusto Servanzi nasceu em San Severino, Macerata, Itália, a 20 de agosto de 1840. Em 1867 já ordenado padre de sua diocese, entrou para a Companhia de Jesus em Roma a 9 de setembro. Cinco anos depois o encontramos lecionando gramática latina no Colégio São Francisco Xavier, em Recife. Ali foi uma das vítimas da invasão ao educandário jesuíta no célebre caso que culminou na perseguição e prisão de Dom Vital, bispo de Olinda. O exame de corpo de delito revelou lesões por objeto contundente fruto do espancamento promovido pelos liberais.
Deslocado de Pernambuco, Servanzi chegou a Itu em 22 de janeiro de 1874, o primeiro jesuíta a vir pela nova Estrada de Ferro Ytuana. Além das aulas de gramática aos alunos menores, acompanhou as missões populares. Em 1874 foi com o padre Taddei a São Pedro e no ano seguinte a Jaú, Dois Córregos e Brotas. Em 1877 esteve em Araraquara e São Carlos do Pinhal com o padre Mantero. Tinha jeito com o povo.
Retornou a Roma para completar estudos. Ao voltar ao Brasil ficou por nove anos como missionário em Nova Trento, como já vimos.
Em maio de 1888 estava em Itu preparando-se para missões indígenas em Goiás, solicitadas à Companhia de Jesus pelo bispo D. Cláudio Ponce de Leon.
Na companhia do Pe. Tuveri estabeleceu-se nas proximidades de Boa Vista de Tocantins, após percorrer centenas de léguas de estradas de terra e outro tanto pelo rio. Trabalharam junto aos Apinajé, que falavam português. Em cartas, posteriormente publicadas em Roma (1893), descreveu o cotidiano dos indígenas, o entusiasmo de algumas tribos pelas missões e o desinteresse de outras. Por dois anos e sete meses estiveram na região, mais ligados ao povo não indígena. Com a morte do padre Tuveri, Servanzi foi chamado de volta a Itu. Porém, na longa viagem de volta contraiu febre amarela. Morreu ao chegar a Recife, em 22 de maio de 1891.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”