Missão Romana dos Jesuítas em Itu – Padre Paolo Biolchini
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O projeto missionário dos jesuítas italianos em muito diferia do comportamento religioso do antigo clero brasileiro, acomodado à distância de Roma. Alguns padres daqui eram adeptos do pensamento liberal, melhor funcionários do Estado e professores que líderes espirituais. Alguns pertenciam à maçonaria, atitude condenada pelo papa Pio IX. Os jesuítas se opunham ferozmente ao liberalismo, seguindo absolutamente as determinações da Santa Sé.
Os primeiros anos da Missão Romana em Itu foram de grande enfrentamento. Não fossem os empecilhos do governo paulista para autorizar a abertura do colégio, houve campanha de difamação contra os padres. Alguns moços frequentavam o catecismo, no fundo da igreja, para ridicularizar as missões e criticá-las através do jornal. Joaquim Leme de Oliveira Cesar até organizou outro semanário “A Esperança”, em 1866, entre outros objetivos, para defender os missionários e valorizar o trabalho dos padres italianos.
Talhados para a luta em defesa da fé, os jesuítas foram alvo de agressões quando convocavam o povo à frequência dos sacramentos. Um dos episódios marcantes se deu em 1873, com o padre Paolo Biolchini na festa da padroeira da igreja Nossa Senhora do Carmo, cuja fotografia ilustra a matéria. Como tivesse se retirado do Convento de Itu o carmelita Frei Miguel, os jesuítas foram convidados a atender a Ordem Terceira. As lideranças do grupo, porém, eram de liberais. Quando Biolchini falou, ao sermão, para se confessarem e comungarem, pouco faltou para que fosse espancado.
Ele já chamara a atenção do povo de Camboriú (SC), cinco anos antes, a fim de “despertar do pesado sono do pecado e desleixo religioso os povos abandonados” daquela cidade, severa crítica ao clero diocesano.
Paolo Biolchini nasceu na Itália a 25 de setembro de 1837. Com dezesseis anos ingressou na Companhia de Jesus, onde fez os estudos regulares. Mandado às missões no Brasil, foi nomeado para Itu em 1868, mas logo direcionado para Florianópolis. Serviu como vigário em Piratini (RS), onde sofreu acusação de contribuir para a propagação de moléstias contagiosas, pelo delegado de Saúde Pública, por executar obra em área de um antigo cemitério. Possivelmente durante missões populares. Chegou a Itu no último dia de 1872 e retornou à Itália em maio de 1876. Em pouco mais de três anos pregou missões em diversas cidades paulistas e mineiras: Amparo, Bragança, Serra Negra, Atibaia, Itatiba, Santa Bárbara, Monte Santo, Guaxupé, Jacuí, São Pedro e Mogi Guaçu.
De volta à sua pátria continuou atuando como missionário em Roma, Florença e Bolonha. Em 1895, porém, deixou a Companhia de Jesus. Possivelmente retornou ao Brasil. Encontramos um homônimo servindo como capelão do Asilo da Velhice Desamparada do Rio de Janeiro, inaugurando a capela a Nossa Senhora de Lourdes em 31 de maio de 1904. Não seria impossível se tratar do mesmo padre, que se naturalizara brasileiro em 13 de março de 1872. É provável que tenha vindo continuar a cuidar das almas do povo brasileiro do qual se afeiçoou.

Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”

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