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por Dom Carlos José de Oliveira
Bispo de Apucarana

Nicodemos perguntou-lhe: ‘Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer uma segunda vez? ’ (Jo 3, 4)
A cada ano, cada estação tem seu tempo: o verão com seu hálito quente, dá lugar ao outono e seu clima ameno, depois o inverno, que sugere o aconchego, a proximidade e, após esse, a primavera que faz brotar a alegria de novas flores em árvores velhas, novas folhas em troncos antes ressequidos, brindando nossos olhos com cores diversas e exuberantes que só a mão de Deus pode criar. Após cada estação, um novo tempo. Esse processo nos leva a pensar que conosco também pode ser assim. Vivemos de fases diferentes, ora fervorosos, ora mais frágeis. Esse tempo de Pandemia nos ensina muitas coisas, entre elas, o renascer para novos hábitos, atitudes e tomada de consciência. Se a Nicodemos Jesus disse que é preciso nascer de novo, hoje, também nós devemos levar à serio esse pedido de Cristo, renascer como novas criaturas para sermos, não apenas depois da Pandemia, mas já, agora, homens e mulheres novos, dispostos a fazer um mundo melhor, para nós, para o próximo e para as futuras gerações.
No isolamento a que fomos obrigados a viver já a tantos meses, muitos ensinamentos e novas perspectivas, que antes poderiam parecer descabidas, se tornaram tão reais, a ponto de nos transformar em novas criaturas. Mudamos hábitos de convivência, sejam profissionais, familiares ou espirituais. Menos contato corpo a corpo, mais carinho e atenção aos mais frágeis, usamos máscaras para nossa proteção e dos outros também, passamos a viver com mais empenho a Igreja Doméstica, a oração pessoal e a Comunhão Espiritual. Verdadeiramente, renascemos como novos homens e mulheres, que, impedidos por um vírus invisível, passamos a nos ver além das aparências na convivência diária com aqueles que quase não convivíamos. E, diante disso tudo, também passamos a utilizar a tecnologia mais intensamente: a globalização tecnológica se tornou quase que um refúgio, para além da necessidade a que estávamos acostumados. Porém, há que se pensar que a globalização é mais que um mundo conectado pela tecnologia avançada.
A Encíclica Laudato Si supõe e propõe algo maior a ser realizado: um mundo globalizado, em que o Globo Terrestre, a Terra, mediante a união de todos, seja visto e compreendido como a “Casa Comum”, um lugar a ser regenerado, cuidado com amor, para que, de troncos ressequidos surjam as folhas, os frutos, as flores, ou seja, que nosso Planeta volte a ser o que era nas origens: um lugar bom de se viver, para todos. A Pandemia nos revelou águas mais cristalinas nos rios, praias mais limpas, menos poluição e, um reencontro conosco mesmo. Desse reencontro pessoal, deve surgir um novo nascimento, uma decisão de tomarmos posse da graça de Deus, derramada sempre, desde os primórdios, quando Ele soprou com seu hálito Divino sobre o homem, dando-lhe a graça da vida em plenitude.
Também somos frutos do Sopro de Deus, e trazemos em nós uma marca indelével: fomos criados, todos, para viver em harmonia com todas as criaturas e com o Criador. Nossa raiz está em Deus, Dele viemos e para Ele devemos voltar.
Os tempos atuais reclamam a nossa conversão pessoal, espiritual, social e ecológica. Neste mês de setembro, não por acaso, mas por desígnio de Deus, a Igreja comemora o mês da Bíblia, a Palavra Divina que, sempre igual, se atualiza a todo instante, nos mostrando que Nela há todo o ensinamento necessário para que possamos nascer de novo, melhores e mais atentos, mais comprometidos e conscientes de que somos nós os protagonistas do cumprimento do Plano de Amor de Deus.
Somente sob a Luz da Fé, pondo em prática a Palavra, pode-se perceber o verdadeiro sentido dos Planos de Deus, e a partir dessa consciência, poderemos cuidar, respeitar e amar toda espécie de vida. Peçamos à Virgem Maria, a Senhora de Lourdes, que, assunta aos céus, é a Rainha de toda criação, que tenhamos a graça da saúde da alma e do corpo para agirmos conforme os desejos de Deus.
Amém.

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