Manipulações  e propagação das divisões e ódios
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por Olga Sodré

Enfrentamento das pressões, união e escuta interior

As diferenças de pontos de vista e posições podem gerar naturais conflitos, mas estes estão sendo atualmente incentivados e fomentados, disseminando o ódio e divisão nas relações sociais, nas famílias e até mesmo nas igrejas. Esse processo vem sendo manipulado com objetivos políticos e econômicos para enfraquecer os opositores. Isoladas pela pandemia, as pessoas acabam enredadas por essas manipulações. Não podemos ficar indiferentes à propagação do sofrimento, das injustiças e crimes sociais, sendo, portanto, positiva nossa indignação e protesto diante das tragédias humanas. Para superá-las, torna-se fundamental, no entanto, não nos deixarmos invadir pela avassaladora onda de destruição e morte, contrapondo-nos ao atiçamento do ódio e das divisões.
Desligar-se dessa onda das trevas permite-nos analisar e criticar com lucidez o que nos parece errado, focalizar a atenção em alternativas concretas para os problemas e defender democraticamente nossos pontos de vista, no respeito aos que pensam diferente. A convivência amorosa com pessoas que manifestam posições totalmente contrárias e com aqueles que me pressionam ao ódio aos opositores tem sido para mim uma desafiante prática espiritual. De nada adianta agredir o próximo, ofendê-lo ou tentar persuadi-lo a mudar de opinião.
A maioria das pessoas nem se dá conta do massacre de informações e do enredamento a que está sendo submetida. Quando retornei ao Brasil, no início dos anos oitenta, fui convidada a ensinar meditação na PUC-RJ, e percebi a dificuldade dos alunos para praticarem os mais simples exercícios de concentração. Deparei-me com a ausência de introspecção e contato com o próprio ser. Entendo, portanto, a tendência a aderir às bolhas de relacionamento polarizadas, o mal-estar diante do confinamento e do quadro social sombrio como reações por parte de pessoas que não estão acostumadas ao recolhimento e mergulho na vida interior. No entanto, para solucionarmos os problemas seria melhor enfrentarmos as pressões externas e tendências destrutivas, repousarmos na paz interior e nos concentrarmos em projetos construtivos. O ideal seria cultivarmos o silêncio e a espiritualidade, guardar a leveza, o humor e o amor ao próximo. Porém isso não se improvisa e vai à contramão da agitação, busca externa de aprovação, ausência de contato consigo mesmo, falta de reflexão e empatia.
Aprofundando meu trabalho psicológico e minha caminhada espiritual, descobri, no âmago do meu ser, uma abertura para o alto, que possibilita uma radical mudança interior. Essa abertura cria um espaço interno, semelhante ao espaço virtual, no qual temos acesso mais direto uns aos outros. Ao nele entrarmos, ampliamos nossa capacidade de escuta do ressoar divino, a compreensão dos textos sagrados e das falas e narrações de outras pessoas. Compreendi tratar-se de um espaço de amor e união que se rompe com a divisão e o ódio. Daí o perigo de cedermos às maliciosas pressões e manipulações nesse sentido. O isolamento nos dá a oportunidade de escaparmos do enredamento dessas tramas e realizarmos um encontro mais profundo com nosso próprio ser e com Deus. Não desperdicemos essa oportunidade de recolhimento para abrirmos as janelas do nosso ser, ouvir a Deus e aperfeiçoarmos nossa humanidade.

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