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“De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito,
para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3,16).

Caros leitores e leitoras: no dia 14 de setembro, a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz. A data lembra o dia da dedicação das Igrejas Basílicas sobre o Gólgota e o Sepulcro de Cristo, construídas durante o Império de Constantino e dedicadas no dia 13 de setembro de 335.
O mistério celebrado, no entanto, ultrapassa esses fatos históricos. Dentro do plano de Deus, a cruz tornou-se sinal e símbolo do mistério pascal. A Cruz parece decretar o fracasso de Jesus, mas, na realidade, marca a sua vitória. No Calvário, aqueles que o injuriavam, diziam: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40). Mas a verdade era o oposto: justamente porque era o Filho de Deus, Jesus estava ali, na cruz, fiel até o final ao desígnio do amor do Pai no Espírito Santo. A cruz é, portanto, um sinal eficaz da nossa salvação realizada pelo Deus Uno e Trino.
Como sabemos, a cruz é sempre presente na nossa fé. Só para lembrarmos: a cruz no início das celebrações; a cruz nas bênçãos sobre as pessoas e sobre o pão e o vinho que serão consagrados na celebração eucarística; a cruz no envio da comunidade ao encerrar-se cada rito da Igreja; a cruz com a imagem do Crucificado, protegendo casas e salas; o sinal da Cruz ao iniciar encontros e outras atividades, onde quer que os cristãos se reúnam; a cruz na bênção das casas; a cruz sobre o corpo morto de quem encerrou sua jornada na terra; a cruz nos cemitérios, para marcar o lugar em que foi plantado um corpo, templo do Espírito Santo, à espera de novos céus e novas terras; a cruz colocada ao longo das estradas… A Cruz, por fim, é sinal do amor trinitário por nós, e por isso, rezamos dizendo: “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Portanto, no mistério da Santíssima Trindade e na Cruz gloriosa se encontram a nossa vida, nossa alegria e nossa felicidade. Pelo amor da Trindade a nós, colocamos em nossos lábios a oração de louvor: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém”.
É dessa Cruz, irmãos e irmãs, que é derramada a misericórdia do Pai que abraça o mundo inteiro. O seu amor eterno doado ao seu Filho foi estendido a todos nós, pois o Filho amado de Deus nos uniu a Ele mesmo naquela cruz, reconciliando-nos com o Pai. A cruz é o sinal de Deus Pai entregando o Deus Filho para a salvação do mundo. Nós devemos, como Jesus, tomar a nossa cruz por amor (cf. Mt 16,24), não a encarar como castigo, como punição, mas olhar para ela e enxergar nela o amor infinito de Deus Pai.
Não obstante, a cruz também é a manifestação do amor de Jesus ao Pai e a nós, já que a Cruz de Jesus é sinal de sua obediência ao projeto do Pai. Jesus, o Filho obediente do Pai (cf. Fl 2,8), entendeu que tomar a cruz era necessário para que nós tivéssemos a salvação. Foi na obediência até a morte, e morte de cruz, que obtivemos a graça do Pai. A multidão debaixo da cruz de Jesus supunha que a fraqueza mantinha Jesus preso à cruz, quando na verdade Jesus manifesta a sua onipotente força. Maravilhosamente, eram as cordas invisíveis do seu amor eterno que o mantinham ali na cruz. Na verdade, a missão de Cristo não era salvar-se, mas entregar-se por amor a nós.
Já a Carta aos Hebreus diz que “em virtude do Espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14). “Espírito eterno” é outra maneira de chamar o Espírito Santo. Isto significa que Jesus recebeu do Espírito Santo, que agia nele, o impulso para oferecer-se em sacrifício ao Pai e a força que o sustentou durante a sua paixão. O Espírito Santo leva Jesus à cruz, e da cruz Jesus entrega o Espírito Santo (cf. Lc 23,46). No momento do nascimento e, depois, publicamente, em seu Batismo, o Espírito Santo é dado a Jesus; no momento da morte, Jesus dá o Espírito Santo: “E agora, exaltado à direita de Deus, ele recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo e ouvindo” (At 2,33).
Por fim, caros irmãos e irmãs, é na cruz que se encontra a nossa salvação, a nossa força contra as tentações, o desapego dos prazeres terrestres; na cruz, em suma, encontra-se o verdadeiro amor de Deus. É preciso, pois, decidirmo-nos a carregar com paciência a nossa cruz, pois carregando-a de boa vontade, ela nos levará ao céu, e nos dará a paz nesta terra.
Enquanto vivermos neste mundo, sigamos testemunhando e anunciando a gloriosa mensagem da cruz!

A todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

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