Neymar: choque de amor e ódio!
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Eu sei que o termo utilizado é um tanto quanto pesado, mas, é assim que vejo. Antes, durante e principalmente depois da final da Liga dos Campeões, quando de uma atuação pífia, o craque do PSG gera entre nós brasileiros, sentimentos distintos de amor e ódio. Sinceramente, é só uma opinião, a minha, mas fica impossível não comentar depois de atrozes comentários que ouvi, da manhã do último sábado, até a manhã de segunda-feira última.
De quase unânime dentro das quatro linhas, fora delas, Neymar divide opiniões, muitas delas, sinceramente inexplicável. Neymar colocou em lados opostos aqueles que torceram por ele (e claro; Marquinhos e Thiago Silva – outros brasileiros do time francês) e os que o secaram na final da Champions League. E assim tem sido, em minha ótica, a vida dele desde os eventos das Copas 2014/18.
Celebridade internacional, fenômeno das redes sociais, o craque do PSG tem o dom de dividir. Os mais jovens tendem a apoiar Neymar, enquanto o pessoal mais experiente, recrimina qualquer atitude do jogador (dentro e fora das quatro linhas). Lembro aos mais novos, que nem Pelé conseguiu essa “regularidade ou performance”, pois vi alguns jogos do rei que quase nada fez.
Em onze anos de carreira profissional, Neymar que em 2009 era apenas o “filé de borboleta”, segundo Vanderlei Luxemburgo, hoje tem uma realidade bem diferente. Em 26 jogos; marcou 19 gols (média de 0,73 por jogo), anotou 12 assistências realizando 1.481 passes decisivos (um acerto de 79%) com 150 dribles certos. Os números são frios, mas, inquestionáveis. Quem entre os craques dos “secadores/críticos” tem números assim, tão absolutos?
Engraçado que o narcisismo digital não foi inventado por Neymar. Inclusive no futebol ele tem em Cristiano Ronaldo um modelo. O craque português se exibe nas redes sociais e provoca menos repulsa que Neymar, até mesmo entre os fãs de seu maior rival: Messi (que não ganhou nada nessa temporada). Os três principais jogadores desta geração são incrivelmente individualistas. O problema de Neymar é que falta a ele naturalidade. Sempre há uma desconfiança sobre tudo que faz – ou posta. É sincero ou programado? Faz parte de alguma campanha? Ele está lançando algum produto?
Esportivamente, Neymar escolheu um objetivo individual num esporte coletivo. Sua vida gira em torno de um sonho legítimo: ser escolhido o melhor jogador do mundo. E ele pode e deve, pois reúne todas as condições para isso, mas gera desconfiança sobre seu comportamento coletivo ao colocar a Bola de Ouro no fim do seu arco-íris particular. CR7 e Messi fizeram o mesmo. Como chegaram lá várias vezes, embora sigam sendo caçadores de prêmios individuais, geram menos controvérsia que Neymar nesse sentido.
Cristiano não tem oposição em Portugal, mas Messi ainda é visto com desconfiança por uma grande parcela dos argentinos que o tem como um compatriota que emigrou e perdeu as raízes. Neymar ainda não capturou o espírito dos torcedores brasileiros como fizeram recentemente os Ronaldos Fenômeno e Gaúcho. Que eram tão individualistas e narcisistas quantos Neymar, mas sem HD, 4K, 5G.
Muitos craques do passado que agora criticam Neymar foram tão ou mais marrentos do que ele em seus dias de glória. Alguns parecem ser feitos de material antiaderente: nada gruda neles, por pior que sejam as situações em que se metem. Quando param de jogar, muitos atletas de comportamento e postura repulsivos se transformam magicamente em parceiros, tudo gente fina, elegante e sincera.
Os torcedores, não generalizando, têm grande dificuldade em aceitar Neymar e seu comportamento. Acusam o jogador de ser mascarado, exibido e pouco comprometido. Uma rápida pesquisa na história do futebol brasileiro de todas as épocas trará relatos de comportamentos semelhantes de vários grandes craques; Heleno, Leônidas, Pelé, Renato, Romário, Neto, Edmundo. Disputas internas, vestiários rachados, panelinhas, privilégios, narcisismo falta de comprometimento coletivo, abandono de familiares. O problema é que o radinho de pilha e a TV analógica não ecoavam como as redes sociais de hoje.
Assim como vários “colegas”, não vejo a possibilidade de o Brasil voltar a vencer uma Copa do Mundo sem Neymar. Se com ele está complicado, imagine sem ele! Para alcançar sua sonhada Bola de Ouro no fim do arco-íris, ele deve entender que há um caminho coletivo a ser cumprido. Parece estar compreendendo isso no momento decisivo de sua carreira. É hoje um jogador mais maduro dentro de campo.
Neymar tem ainda uma Copa do Mundo em alto nível técnico e físico: a próxima. Ele terá 30 anos, a idade de Pelé no Mundial de 1970.
Em termos de Champions, as oportunidades serão maiores. Mas para jogar uma grande Copa não tem como escapar: é em 2022. Ele próprio se impôs algumas condições graças ao caminho que escolheu. Não bastará vencer uma Champions. Para lacrar, Neymar terá que ser o cara numa final, decidir o jogo, carregar o time nas costas.

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