Santo súbito
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por Altair José Estrada Junior

“O Brasil precisa de santos; o Brasil precisa de muitos santos!”. Tive a honra de ver e ouvir o hoje São João Paulo II bradar enfaticamente esta frase, em Florianópolis, ao beatificar Madre Paulina, considerada a primeira santa brasileira, embora não tenha propriamente nascido no Brasil. Era o dia 18 de outubro de 1991 e, após uma longa noite de espera ao relento, com chuva intermitente, minha tia Elizabeth, minha prima Rosângela e eu, assistíamos, no aterro da Baía Sul, a celebração histórica que marcaria o início do reconhecimento formal da santidade nestas terras de Santa Cruz. Com efeito, de lá para cá, outros brasileiros foram elevados à honra dos altares, inclusive natos, como é o caso dos 30 Mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte, de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão e, recentemente, de Santa Dulce dos Pobres, além de bem-aventurados, como Albertina Berkenbrock, Padre Donizetti de Tambaú e Nhá Chica, entre outros.
O Brasil, de fato, custou para ver filhos seus beatificados e canonizados: 500 anos! Mas a exortação de João Paulo II certamente abriu portas não para processos canônicos em si, mas pela valorização da vida de santidade por parte dos brasileiros, que passaram a ver em seus conterrâneos pessoas capazes de ser exemplos de vida de oração, de heroísmo, de dedicação a Deus e ao próximo.
No último dia 18 de junho vimos partir para junto de Deus Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Diocesano de Palmares, em Pernambuco. Alagoano de Penedo, Dom Henrique tinha apenas 57 anos e morreu após 15 dias de internação, em Recife, vitimado pelo cruel vírus chinês, que tanto transtorno físico e moral tem causado à humanidade. Mestre em Teologia Dogmática, ainda padre exerceu funções importantes na Arquidiocese de Maceió. Já como bispo, foi auxiliar de Maceió e, desde março de 2014, titular de Palmares, quando também presidiu Comissão da CNBB para a Cultura e Educação. Mas o motivo pelo qual Dom Henrique mais se destacou foi a sua incansável atuação nas redes sociais. Com sua voz serena e cativante, não media esforços em proporcionar a quem o acessasse uma formação firme da fé católica, a todos apontando o verdadeiro caminho para a santidade e edificação. São inúmeros os seus vídeos à disposição no YouTube.
Com o coração apertado acompanhei seus funerais, transmitidos ao vivo por vários canais na internet, e pude verificar a enorme quantidade de pessoas que disparavam um “santo súbito” nos comentários e chats. Santo subito é uma expressão italiana que significa “santo já”, “santo automaticamente”, muito usada quando da morte de João Paulo II. Resumindo, quer dizer que sequer seria necessário um processo canônico para que o falecido já fosse considerado santo pela Igreja.
Não eram meros e distantes internautas os que assim o bradavam, mas gente próxima ao bispo, fiéis que com ele conviviam, seus diocesanos. Pessoas que testemunhavam no dia-a-dia a sua vida de santidade, as suas virtudes, a sua dedicação às almas que lhe haviam sido confiadas. E ninguém melhor para reconhecer a santidade de uma pessoa que o povo que o conheceu de perto e que certamente o terá por exemplo e intercessor.
No final de julho, pouco depois da morte de Dom Henrique, assistimos envergonhados à publicação de uma carta assinada por 152 bispos brasileiros, felizmente muitos eméritos, mas vários arcebispos e até um cardeal considerado “um grande amigo” pelo Papa, posicionando-se politicamente contra a maioria do povo brasileiro, conservadora, religiosa e defensora da vida e dos valores da família cristã, em favor de partidos políticos e, pior, de uma ideologia que já provou exaustivamente ter desgraçado a economia, a saúde, a educação, a cultura, as artes e onde quer que tenha se metido. Além de já ter sido formalmente condenada pelo Magistério da Igreja!
Ao contrário desses “pastores”, ainda parte de uma igreja criada por Dom Hélder Câmara e nutrida por tantos outros, como os cardeais Arns e Lorsheider, Dom Henrique não estava preocupado em confundir e desestabilizar os fiéis, mas em aproximá-los de Deus, em levá-los para o Céu, suscitando-lhes a obediência aos Mandamentos e o ideal evangélico de amor a Deus e ao próximo. Diferentemente da maioria do clero nos últimos meses, não se fechou ao sofrimento dos que padeciam a enfermidade e as misérias espirituais. Nem tampouco permitiu-se ao conforto de ouvir árias eruditas em sacadas ou de admirar flores no jardim, cruzando os braços e esperando pelo “novo normal”, enquanto se protegia com a máscara da indiferença. Em meio a todo esse flagelo, quis continuar sendo, na verdade, “um pastor com cheiro de suas ovelhas”, como Francisco sempre pede ao clero. Mesmo que suas ovelhas eventualmente estivessem doentes…
Dom Henrique Soares da Costa, santo súbito!

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