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por Gen. Div. Eduardo Diniz

No momento em que muitos questionam a participação de militares da ativa e da reserva no governo e se as Forças Armadas devem ou não atuar no restabelecimento da ordem Institucional, é importante que se façam algumas colocações e esclarecimentos.
Primeiro assinalo a existência de um antagonismo de certos segmentos da sociedade para com os homens de farda, haja vista o seu posicionamento, ao longo da história, contrário à quebra de alguns valores da nossa sociedade, notadamente quando se opuseram aos atos que visavam à socialização do Estado. Esses antagonismos, via de regra, levam esses atores a gerar factoides com o fim de desacreditar a Instituição perante a sociedade, tirando dela algum possível papel de guardiã das Instituições do Estado.
Mas, ao se tratar desta questão, entendo que o ponto de partida para uma melhor compreensão, seja o entendimento do que realmente é a Profissão Militar, entendimento que pode trazer alguma luz à discussão uma vez que trata-se de estamento bastante específico e peculiar desta sociedade, que é desconhecido por muitos. Vou tratar desse assunto tendo por base meus 43 anos de dedicação ao Exército e à minha pátria e em pouco me utilizando da vasta literatura que trata do assunto.
A evolução tecnológica, o respeito aos direitos humanos e às questões ambientais e, ainda, a evolução dos conflitos, fruto das grandes incertezas por que passa o cenário mundial, trouxe à profissão militar elevado grau de complexidade, o que leva o homem das armas a intensa e constante preparação que começa quando pela primeira vez coloca o seu gorro e o acompanha até o dia em que pela última vez desveste o seu coturno.
O conhecimento tecnológico, a formação humanística, o conhecimento da tática e da estratégia, da gestão administrativa e dos problemas nacionais são temas recorrentes na vida do soldado, mas posso lhes afiançar, são apenas o complemento a algo que realmente faz do cidadão um verdadeiro soldado. A alma do soldado efetivamente é forjada com o trabalho que se desenvolve naquela que é chamada a sua área afetiva. Nesse campo, valendo-se da teoria e da prática, são ensinados e exercitados os valores e as virtudes militares, tomando-se como preceitos basilares a Disciplina e a Hierarquia.
Deter-me-ei aqui sobre um destes aprendizados que me marcou e marca a todo oficial pelo resto de sua vida. Em nossa Academia Militar existe no topo do prédio do nosso refeitório a seguinte frase que se nos apresentava como se uma revelação celestial fosse; “Cadete, ides comandar, aprendei a obedecer”. Por quatro anos seguidos, três vezes ao dia, ao entrar em forma para o café, o almoço e o jantar, o cadete é impelido a meditar sobre o real significado daquele adágio.
Essa singela frase nos mostra que, de forma condicional, o bem comandar impõe a servidão de aprender a obedecer. O aprender a obedecer remete à cognição, entendimento, compreensão e aceitação da obediência. A obediência não é cega. A obediência não se presta a pessoas. As renúncias e sacrifícios da vida do militar são obedientes à Constituição Federal, às leis, às normas, às virtudes e valores militares e, dentre estes, aquele que é o mais importante para um soldado: o amor pela sua Pátria.
O militar obediente ao Estado e à sua Constituição, bem sabe do seu papel perante a nação a quem busca defender, resultado do amor que nutre pela sua pátria. Cabe à sociedade brasileira conhecer e aquilatar o valor desses agentes do Estado. Cabe à sociedade brasileira identificar e entender a real intenção de seus detratores.

General Diniz é ituano, presidente do Círculo Militar de São Paulo, atualmente está na reserva do Exército, analista do Núcleo de Estudos Estratégicos em Defesa e Segurança da UFSCAR.

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