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por Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

“Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18)

Caríssimos leitores e leitoras: a Liturgia da Palavra, proclamada na celebração do próximo domingo, o 21º Domingo do Tempo Comum, coloca em evidência duas pessoas que, a seu próprio tempo, foram chamadas a ser administradoras. De fato, a missão de administrar é a de cuidar da própria vida e a das pessoas a si confiadas, com o seu patrimônio, e é, portanto, muito importante em muitas áreas de atuação humana.
Na Primeira leitura, tirada do Antigo Testamento (cf. Is 22,19-23), encontramos Sobna, administrador do palácio do rei Davi. Sua missão era importantíssima: zelar pelo bom funcionamento da casa real, comandar muitos empregados, decidir sobre a manutenção dos aposentos, supervisionar despensas, etc. Ele é frequentemente lembrado por ser exemplo de mau administrador. Como não pertencia à nobreza, tinha a ambição de ser lembrado no futuro por seus feitos. Pensando mais em si mesmo do que na missão de bem administrar, aproveitava de privilégios que o honravam muito, mas que traziam vexame para o rei. Por isso foi destituído: “Vou demitir-te da tua função, depor-te do teu cargo” (Is 22,19).
Na leitura do Evangelho, encontramos o apóstolo Pedro, em cujo coração não se encontrava ambição alguma (cf. Mt 16,13-20). Acostumado à vida simples de pescador, ele seguia Jesus com o único propósito de imitar os passos daquele que sabia ser o Verbo Encarnado. Tal verdade fica explícita na sua resposta ao pedido de Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,16), e ele, iluminado pelo Espírito de Deus, afirma acertadamente: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).
Se Jesus usasse critérios humanos para definir quem seria o chefe entre os apóstolos, certamente poderia levar em conta outras características: João era o mais jovem; Mateus, mais culto; Judas entendia de finanças (até mais do que deveria); Tomé, era prudente; Tiago, seu parente; etc.
“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!”, exclama o apóstolo Paulo. “Como são insondáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos!” (Rm 11,33). Para Jesus o melhor critério é abrir-se à graça de Deus, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo que revela e renova todas as coisas. Pedro tinha o coração cheio de fé e de amor por Cristo, por isso foi elogiado por Jesus: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16,17).
Por sua fé e entrega a Deus, Pedro foi o escolhido para ser o primeiro Papa. Foram-lhe dadas as chaves do Reino e a autoridade para ligar e desligar tudo na terra e nos céus (cf. Mt 16,19). Coube-lhe a missão de pastorear, apascentar, confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32) e administrar a Igreja nascente. Modelo de bom administrador, ao contrário de Sobna, Pedro foi fiel até o fim, sendo crucificado, segundo a Tradição, na cruz, como Jesus, mas de cabeça para baixo.
Caríssimos leitores e leitoras: a cada um de nós Deus presenteou com muitos dons, dando-nos uma missão, uma vocação, um chamado, que devemos viver a serviço da igreja e da sociedade. O pai de família tem a missão de, ao lado da esposa, criar e educar os filhos para a vida e na fé. Os filhos já criados têm a missão de constituir família e de amparar os pais na velhice. Os funcionários têm a missão de trabalhar honestamente e em harmonia com o patrão. Os proprietários têm a missão de gerir a empresa, olhando não apenas para o lucro, mas também para o bem-estar dos seus colaboradores.
No mundo complicado em que vivemos, é necessário sermos firmes como a rocha. Porém, não podemos permitir que isso endureça o nosso coração. Jamais devemos fechar o coração para a ação e a presença do Espírito Santo. Como Justo Juiz, um dia Deus há de nos cobrar sobre o modo como administramos a nossa vida, os nossos sentimentos, as nossas ações e o nosso modo de nos relacionar com tantos irmãos e irmãs. Que a parábola do mau administrador nos sirva de lição (cf. Lc 16,1-8): somos chamados a multiplicar os dons que recebemos de Deus para o nosso bem e do nosso próximo: nada de escondermos os dons recebidos da bondade de Deus no chão, sem multiplicá-los e sem nada render, como o “servo mau e preguiçoso” da parábola dos talentos (cf. Mt 25,25-27).
Saibamos dar graças ao Senhor, de todo o coração, porque ele ouve as palavras da nossa boca, na forma das nossas orações. Agradeçamos o amor que Deus tem para conosco e que realiza maravilhas em nossa vida. Somos felizes porque a Divina Providência sempre olha por nós e nos fortalece em nossa missão. Peçamos ao Pai, por nossa fé no Filho, que o Espírito Santo não deixe inacabada a obra divina que Ele começou em cada um de nós (cf. Sl 138[137],8).

E a todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

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