Catequese sobre a Penitência – Parte I
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por Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrat
Salto/SP

De uma catequese de Carmem Hernández sobre o sacramento da penitência aos bispos da África (Roma, 28 de janeiro, 1994)

Nesta sala vamos entrar em um mistério, em um SACRAMENTO. Um sacramento é um mistério que fala ao homem de tal forma que a Gregoriana (Universidade de Teologia) não conseguiria fazer, por mais santos professores que tenha. Deus não deixou seu memorial em uma universidade, Jesus Cristo não fundou nenhuma universidade, nem nenhuma escola: deixou-nos seus feitos em sacramentos, em mistérios que podem ser experimentados não somente com a cabeça, mas com todo o corpo, com todo o espírito, e entrar neles. Mas esses sacramentos não podem ser compreendidos sem o povo de Israel, sem este hebreu (este hebreu que está na cruz). Israel tem uma história: uma história de pecado, de pecado, de pecado; e uma experiência de perdão, de perdão, de perdão. Experimentou a morte, viu as serpentes que mordiam e faziam todos no deserto morrer; viu o mal e a morte na qual estava entrando, viu a morte desde o princípio. Por isso Israel verá que esta morte, esta serpente ataca a mulher.
Estou muito feliz de ver como nesse sacramento a Igreja se apresenta como uma mulher, como uma mãe, neste sacramento a Igreja se expressa – e não simbolicamente – como MÃE. Por isso, a figura por excelência que apresenta a Igreja como Mãe é a Virgem Maria. E a Virgem Maria não é outra coisa senão ícone das entranhas maternas de Deus.
Quero dizer-lhes uma palavra que para mim foi uma palavra-chave: não sei se já a ensinam nas universidades, mas os hebreus a conhecem tão bem que toda a Escritura, toda a Palavra de Deus, que é revelação, está cheia de uma palavra que é rahamim. Este rahamim é uma palavra intraduzível. Em espanhol, desde o princípio foi mal traduzida como “misericórdia”, mas esta palavra misericórdia: “miser” e “cor”, tem relação com o coração, enquanto a palavra hebraica rahamim não tem nada a ver com o coração, mas com rehem, com a matriz, com o útero. O coração é muito importante, conduz a vida, mas não CRIA a VIDA. Pelo contrário: rahamim indica as entranhas criadoras de Deus, que GERAM a VIDA.
É muito importante conhecer o mundo hebreu, porque, não por casualidade, Deus escolheu um povo de escravos para manifestar a libertação. Israel escravo no maior Império que havia naquele momento da história, que era o Egito.
Os hebreus dizem também que Deus, antes de criar o mundo, como um grande arquiteto, se pôs a desenhá-lo para ver como seria este universo, e tudo lhe parecia fantástico e maravilhoso. Diz: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, isto é, lhe dá a liberdade. E como surge o homem livre, diz Deus: “É fantástico! Mas há um perigo: que em sua liberdade o homem possa verdadeiramente arruinar todo esse plano maravilhoso da criação”. Diz um midrash: “Então, o que Deus fez? Antes de criar o mundo, Deus criou a teshuváh”. A teshuváh é uma palavra hebraica que também é muito interessante. Teshuváh é o caminho de retorno, a possibilidade de retornar, é o homem do retorno. Também a palavra teshuváh é intraduzível: vai muito além da metanóia que aprendemos nas universidades, que indica uma mudança de mente. Teshuváh significa recriar uma coisa de novo, que é este mesmo rahamim, este entrar de novo nas entranhas de Deus.
Este homem do retorno, esta obra de retorno não é outra coisa senão a Páscoa de Jesus Cristo! Por isso na cidade de Jerusalém, onde foi levantada a árvore da vida do paraíso, Ele foi levantado, Jesus Cristo, árvore que dá a vida. É Ele quem entrará precisamente no problema mais profundo do homem, como o exemplifica entrando no Jordão, que é a parte mais profunda da terra, não há depressão mais profunda que o Jordão em toda a terra, é a parte mais baixa de toda a terra. Jesus Cristo desce ali para significar que entra no problema mais profundo do homem, branco, negro, índio, que é a MORTE, esta morte produzida pela ruptura com a vida que é Deus. Quem entra na morte para vencer e matar a morte? Cristo com sua ressurreição! Ele entra na morte e ressuscita, é um homem novo, ressuscitado. Esta é a teshuváh: transformar a morte em vida.

Continua na próxima edição…

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