Sacerdócio: ano um
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por Pe. Salathiel de Souza

Com um misto de alegria e espanto, completo meu primeiro ano de presbítero ordenado pela Igreja Católica Apostólica Romana. O dia litúrgico de Santa Ana e São Joaquim, pais da Virgem Maria e a avós de Jesus, sempre marcará esta que certamente é a data mais importante da minha vida.
Foram 365 dias de alegrias e descobertas. Celebrar os sacramentos, principalmente a Santa Missa, traz ao padre uma felicidade indescritível. Realmente pude experimentar o que escolhi como lema do meu ministério sacerdotal: “Gaudete et Exsultate” (Alegrai-vos e Exultai), inspirado em Mt 5,12.
Foram 12 meses de espanto e surpresa. É realmente admirável a forma como Deus conduz os caminhos daquele que chamou na vocação. Para além de tudo quanto planejamos e fazemos, são muitas as belas e singelas surpresas com as quais o Senhor nos presenteia diariamente no sacerdócio para nos consolar e animar.
A Teologia preparar o intelecto. A vida de oração prepara a alma. Mas o que prepara o padre para a árdua e gratificante missão diária em favor do povo e da Igreja é a vida dura, concreta e real. É no insistente cotidiano que o sacerdote vai se formando e se fazendo verdadeiramente. É uma luta, uma construção, uma estrada. E nisso tudo está Jesus bem ao nosso lado.
É uma vida de altos e baixos, como ocorre na existência de tantas pessoas. Nem tudo são flores no jardim do sacerdócio. Nem sempre há céu de brigadeiro na atividade pastoral. Não é todo dia que a brisa suave está no coração. O sacerdócio não é um alienar-se em fingimentos. É também conflito, exterior e interior. Não é fácil… E isto não é uma queixa, apenas uma constatação.
Nesta balança da vida sacerdotal o pêndulo sempre aponta muito mais para as graças que imerecidamente recebemos. Deus não se deixa vencer em bondade e misericórdia. Se o mundo nos incomoda com preconceitos, falsidades e críticas infundadas, somos consolados pela oração do povo, pelo carinho do povo, pelo respeito e confiança do povo que o Senhor nos confiou.
Ser padre não é uma escolha: é um mistério. Ser padre não é uma profissão: é uma missão. Ser padre é trabalhar, sim. Mas não necessariamente para esta vida terrena. É preparar o caminho de todos para a vida eterna no céu. Ser padre é ir além dos olhos de carne e enxergar com alma, com o auxílio do Espírito Santo. É atuar no escondido, na solidão e no silêncio. Sem alardes, sem vaidades e reconhecimentos.
Alguns perguntam se me arrependo da decisão pelo sacerdócio. Respondo peremptoriamente: NÃO! JAMAIS! Continuo olhando nos olhos de Cristo e respondendo ao meu chamado com a frase de Frei Peirano: “Eras Tu, ó Deus, aquela parte de mim mesmo que eu buscava por toda parte para me completar!”.
Um padre não se torna um anjo ao ser ordenado. Não adquire sabedoria automaticamente. Não se faz um santo no dia seguinte. O sacerdócio aproxima de Deus e da própria humanidade do sacerdote. Não nos torna homens que se sentem mini-deuses. Ao contrário: nos torna homens mais conscientes ainda das próprias misérias e pecados, mais necessitados ainda da Misericórdia Divina.
Neste meu primeiro ano de sacerdócio, preciso ser honesto para com Deus, para comigo e para com o povo. Posso dizer que acertei bastante, em muitas coisas. E a todos esses acertos os créditos vão para a graça divina, para a intercessão da Virgem Maria, para a ajuda de tantos irmãos padres e também do fervoroso povo de Deus. Se tenho um acerto meu, em particular, é confiar nisso tudo e confiar muito pouco em mim mesmo. Melhor assim: sei bem em quem confiei.
Neste meu primeiro ano de sacerdócio errei bastante, em muitas coisas. Se pudesse voltaria no tempo para evitar minhas falhas, mas aos padres também não é concedido esse privilégio. O padre aprende a ser padre como qualquer pessoa que caminha no aprendizado da vida. Só se conhece o caminho, caminhando por ele. Dos meus erros sou completamente responsável, é tudo minha máxima culpa. Como bom empirista, procuro aprender com meus erros para errar cada vez menos. Afinal, é este o objetivo.
Um ano depois, vejo-me em oração perguntando a Jesus: “Senhor, está certo isso? Eu? Justo eu, um sacerdote? Tem certeza? Com tanta gente melhor e mais bem preparada?”. Ao que o Senhor, que me conhece desde sempre, responde com muita sinceridade: “Pare de ser bobo… Você está onde Eu quis que você estivesse. Continua contando comigo, pois Eu conto contigo todos os dias”. E isto me basta. Uma palavra de Cristo vale mais do que as enciclopédias do mundo inteiro.
Continuo completamente dependente da graça divina, da intercessão da Virgem Maria e das preces do povo. Peço a todos que continuem rezando por este pobre padre e por tantos outros irmãos meus, sacerdotes. Um padre que não conta com a oração do povo tem um sacerdócio manco. Pois é a oração dos fiéis que nos ajuda a sustentar em nossa humanidade esse ministério que nos faz tocar e experimentar a divindade.
Muito obrigado, meu Senhor e meu Deus! Sou sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. Ajuda-me a continuar proclamando o Evangelho oportuna e inoportunamente, neste mundo que necessita tanto de Ti. Vem em meu auxílio para que, crucificado um pouco a cada dia contigo, possa eu alcançar as moradas celestes, levando comigo aqueles que me destes.

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