“Isto é o meu corpo” … “para a vida eterna” (1Cor 11, 24; Jo 6, 58) – Parte II
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por Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrat
Salto/SP

A eucaristia possui a dimensão escatológica. Aquilo que se celebra aqui na terra, se celebra com os olhares também voltados para a pátria celeste.
Diz a Constituição Sacrosanctum Concilium:
Na liturgia da terra, participamos, e, de certa maneira, antecipamos a liturgia do céu, que se celebra na cidade santa, a Jerusalém para a qual caminhamos, em que Cristo, sentado à direita do Pai, é como que o ministro das coisas santas e do verdadeiro tabernáculo.
A Igreja reza, desde os primeiros cristãos, esta vida eterna em sua celebração eucarística repetindo constantemente: vem Senhor Jesus. Antecipamos a liturgia celeste ao entoarmos o canto do Santo, momento de união entre céu e terra quando o sacerdote diz: “nós nos unimos aos anjos e a todos os santos, para celebrar a vossa glória, cantando a uma só voz.”, então toda Igreja “dia e noite sem parar, proclama: Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus todo-poderoso, Aquele-que-era, Aquele-que-é e Aquele-que-vem” (Ap 4, 8b). E posteriormente, depois da consagração do pão e do vinho, o sacerdote apresenta aos fiéis o Cristo eucarístico e diz: “felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19, 9).
Qual banquete é este? Porque são felizes aqueles que dele participam?
Este é o banquete do Cordeiro, da vida eterna conquistada por Cristo que se deu inteiramente no seu sacrifício da cruz. E por esta cruz deu-nos a vida eterna. Participar deste banquete é participar da vida eterna, com a garantia dada por ele, verdadeiro homem, que nós, criaturas mortais, também viveremos na imortalidade junto dele.
Por este banquete terrestre, se celebra a vitória de Cristo sobre a morte e a garantia, a todo homem, de páscoa. Partindo do humilde pão e vinho da criação, chegando a Cristo ressuscitado e à graça vivificante do Espírito, vivemos todo o poema da salvação que abrange céu e terra.”
Por isso diz são João Paulo II, quando papa, em sua encíclica Ecclesia de Eucharistia:
[…] ao celebrarmos o sacrifício do Cordeiro unimo-nos à liturgia celeste, associando-nos àquela multidão imensa que grita: ‘A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro’ (Ap 7, 10). A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho.
E ainda:
Quem se alimenta de Cristo na Eucaristia não precisa esperar o Além para receber a vida eterna: já a possui na terra, como primícias da plenitude futura, que envolverá o homem na sua totalidade. De fato, na Eucaristia recebemos a garantia também da ressurreição do corpo no fim do mundo: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia’ (Jo 6, 54). Esta garantia da ressurreição futura deriva do fato de a carne do Filho do Homem, dada em alimento, ser o seu corpo no estado glorioso de ressuscitado. Pela Eucaristia, assimila-se, por assim dizer, o ‘segredo’ da ressurreição. Por isso, S. Inácio de Antioquia justamente definia o Pão eucarístico como ‘remédio de imortalidade, antídoto para não morrer’.
Este é, portanto, o banquete da verdadeira alegria, que nos impele à verdadeira vida eterna. Por isso são felizes aqueles que dele participam. Em Apocalipse encontramos os Cantos de triunfo no céu (Ap 19, 1-10). Os cantares daqueles que são felizes por participarem deste banquete do Cordeiro traduzido pelo canto do Aleluia.
Este canto de alegria é um dos principais elementos da vigília pascal, da celebração do Dia do Senhor. É o canto dos bem-aventurados do céu, que cantam por estar plenos de alegria, um canto que ultrapassa os limites da razão. É o cântico novo que cantaremos em sentido pleno somente no mundo novo, quando recebermos o nome novo (Ap 2, 17) mas nos é lícito antecipar.
O aleluia é simplesmente o canto sem palavras de uma alegria que não precisa mais de palavras, porque está acima de todas elas. Cantar este aleluia é cantar o Cristo ressuscitado, é o canto da vitória sobre a morte e uma primeira revelação daquilo que um dia pode e deve acontecer conosco: que todo o nosso ser seja uma única grande alegria.
E a cada eucaristia celebrada e comungada, seja a certeza deste mistério pascal de Cristo realizado também em cada um de nós.

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