Há duas décadas Barrichello conquistava a primeira vitória na F1
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Trinta de julho de 2000, Hockenheim, Alemanha. Há exatos 20 anos, Rubens Barrichello se tornou o quinto piloto brasileiro a vencer uma corrida de Fórmula 1. E não poderia ter sido mais épico: depois de largar em 18º, Rubinho atacou os adversários com uma estratégia de dois pits stops, contra um de seus principais adversários, contou com uma dose de sorte com um safety car causado por uma invasão de pista, e foi corajoso ao ficar na pista com pneus para pista seca quando chovia em parte do circuito.
Na sexta-feira, a chuva já tinha dado as caras, e o autódromo de Hockenheim simplesmente ficou alagado, ameaçando a realização dos treinos de sábado e a corrida. Antes do temporal, Barrichello ficou em quarto nos treinos livres, a 0s596 do líder Schumacher.
No sábado, Schumi bateu sua Ferrari no treino livre e teve que utilizar o carro reserva. Até aí tudo, bem. O problema é que logo no começo da classificação, o carro de Barrichello teve problemas hidráulicos. Como não havia outro carro reserva, Rubinho teve de esperar o alemão terminar sua classificação para usar o carro do companheiro. Só que choveu, e o brasileiro não passou de 18º – David Coulthard fez a pole, seguido por Michael Schumacher e Mika Hakkinen.
Barrichello, então, adotou uma estratégia de dois reabastecimentos, com o carro mais leve no começo da prova, pode ultrapassar seus adversários nas primeiras voltas e preparar o terreno para o primeiro pit stop; depois da parada, estabelecer um bom ritmo e tentar somar alguns pontos. Conseguiu bem mais do que isso, na saída para a volta de apresentação, Barrichello herda uma posição de Jenson Button (Williams), que caiu para o fim do grid, ganha mais duas com a batida entre Michael Schumacher (Ferrari) e Giancarlo Fisichella (Benetton), e, ainda antes da primeira curva, supera Heinz-Harald Frentzen (Jordan) e Mika Salo (Sauber). No restante da volta, passa Nick Heidfeld (Prost), Alexander Wurz (Benetton) e Ralf Schumacher (Williams). Completa a volta em décimo.
]Barrichello passa Ricardo Zonta e Jacques Villeneuve, ambos da BAR, para ficar em oitavo. Depois de ser fechado na primeira chicane, passa Eddie Irvine (Jaguar) na entrada do estádio para assumir a sétima colocação. Chega a encostar em Jos Verstappen (Arrows) na segunda chicane, mas recolhe para esperar o melhor momento para a ultrapassagem. Permanece em sétimo. Faz a ultrapassagem sobre Verstappen de forma limpa na freada para a segunda chicane e assume o sexto lugar, entrando na zona de pontuação.
Supera Johnny Herbert (Jaguar) na freada para a primeira chicane e toma a quinta colocação. Completa a volta 5s4 atrás de Pedro de la Rosa (Arrows), o quarto colocado. Faz a melhor volta (1m45s331) e baixa para 4s3 a desvantagem em relação a De la Rosa. Baixa seu melhor tempo (1m45s006) e reduz a diferença para 2s957. Não melhora seu tempo, mas fica a 1s762 do espanhol. Encosta em De la Rosa e completa a volta a apenas 0s413 do adversário. Está a 10s602 do líder Mika Hakkinen.
Ultrapassa De la Rosa na freada para a segunda chicane e assume o quarto lugar. Baixa de 3s174 para 1s910 a diferença em relação ao terceiro colocado Jarno Trulli (Jordan). Reduz para apenas 0s707 a desvantagem para o italiano. Encosta em Trulli, mas não consegue a ultrapassagem. Termina a volta 0s399 atrás do italiano. Pega o vácuo, ultrapassa Trulli na freada para a primeira chicane e assume o terceiro lugar.
Faz a melhor volta (1m44s638); completa a volta 13s878 atrás do líder Mika Hakkinen e a 11s938 do segundo colocado David Coulthard. Com menos combustível no carro pensando numa estratégia de dois pit stops, Barrichello entra nos boxes pela primeira vez. Ferrari trabalha em 7s2, e brasileiro volta em sexto. Assume o quinto lugar com o pit stop de Heinz-Harald Frentzen. Passa a 34s933 do líder Mika Hakkinen.
Completa a volta 10s164 atrás do quarto colocado De la Rosa. Crava de novo a volta mais rápida (1m44s300) e baixa diferença para 8s215. Segue baixando a diferença e fica a 6s377 do espanhol. Reduz a desvantagem para 4s148. Completa a primeira metade da corrida a 2s362 do piloto da Arrows, em quinto. Encosta em De la Rosa e fica apenas 0s697 atrás. Quando Barrichello está encostado em De la Rosa, um ex-funcionário da Mercedes, que estava na arquibancada, invade a pista para protestar contra a montadora. De la Rosa e Trulli entram nos boxes, e Barrichello sobe para terceiro.
Safety car entra na pista; Barrichello aproveita para fazer o segundo pit stop e encher o tanque para ir até o fim da prova. Brasileiro volta em quarto. Barrichello sobe para terceiro porque a McLaren optou por não chamar Coulthard ao mesmo tempo do que Hakkinen, e o escocês ficou uma volta a mais na pista. Com o safety car na pista ainda, Rubinho é o terceiro colocado colado nos líderes. Safety car volta para os boxes, e bandeira verde é agitada; Barrichello tenta sem sucesso passar Trulli na primeira chicane.
Pedro Paulo Diniz (Sauber) e Jean Alesi (Prost) batem, e o safety car é acionado de novo. Depois de apenas uma volta, o carro de segurança deixa a pista; Barrichello segue em terceiro. Começa a chover, e Rubinho não consegue passar Trulli. Barrichello completa a volta a 0s633 do italiano. Diferença entre os dois aumenta para 0s922. Hakkinen e Trulli param nos boxes para colocar pneus de chuva, e Barrichello assume a liderança.
Barrichello passa 4s129 à frente do novo segundo colocado Coulthard. Rubinho aumenta a vantagem para 5s244. Nem ele, nem Coulthard e nem Frentzen param. Brasileiro segue na liderança, e Coulthard resolve parar. Frentzen é o novo segundo colocado. Com pneus de chuva, Hakkinen assume o segundo lugar após passar Frentzen, mas o alemão dá o troco na parte da floresta, onde a pista está praticamente seca. Logo depois, o carro do alemão quebra, e Hakkinen recupera definitivamente a segunda posição. Diferença de Barrichello para o finlandês é de 10s096. Vantagem de Barrichello para Hakkinen cai apenas para 9s871.
Depois da corrida, lágrimas, muitas lágrimas. Mas foram lágrimas de alegria. E no pódio, Rubinho chorou lembrando do pai Rubão, que vendera um carro para custear a participação do filho no Brasileiro de kart. Refeito da emoção, Barrichello comentou a corrida: Ainda nem acredito! Dedico esta vitória ao Ayrton Senna, que tanto me ajudou a partir de 1984, e à minha família. Na última volta ouvi a equipe me dizer pelo rádio que ia ganhar, mas, quando se está na liderança, a última volta é a mais longa, e posso confirmar que isso é verdade. Larguei com pouca gasolina, o que me ajudou a fazer muitas ultrapassagens. Eu estava tão concentrado na minha corrida, que, só quando cheguei em quinto, percebi que o Michael já tinha saído.
As últimas voltas foram difíceis, pois a chuva apertou em diversas partes do circuito, mas quando decidi não trocar pneus, vi que a pista só estava molhada no estádio, e o Ross Brawn também me disse que poderia ganhar se mantivesse o ritmo, por isso arrisquei.
Muitíssimo bem arriscado, convenhamos.

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