Pandemônio
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por. Pe. Salathiel de Souza

Há algum tempo concluí que não enfrentamos uma pandemia, mas um pandemônio. O termo, que intitula este artigo, foi cunhado pelo grande poeta inglês John Milton (1608-1674), que o utilizou no clássico épico “Paraíso Perdido” (1667). Nesta obra, uma das mais importantes da literatura universal, o Pandemonium é o centro administrativo do Inferno, algo como o parlamento satânico, lugar no qual reuniam-se todos os demônios sob a liderança do diabo.
No Pandemonium tudo era bagunça e desordem, confusão e caos. Vale a pena ler o clássico de Milton, mas o importante é que a palavra “pandemônio” acabou dicionarizada significando, entre outras coisas, “associação de pessoas para praticar o mal ou promover desordens e balbúrdias” (cf. Dicionário Houaiss). Qualquer semelhança com alguns outros parlamentos mundo afora é mera e triste coincidência.
Até agora e de certo modo, podemos resumir este 2020 assim: desinformação, mentira, confusão, desordem, medo, desespero, insegurança e alienação. Todas estas são ferramentas do demônio, cujo objetivo é conquistar a única e preciosa alma de cada um de nós. Porém, para isso o tinhoso precisa antes conquistar a nossa mente (inteligência) e o nosso coração (sentimento). O diabo é um falso conquistador. E como não pode nos ganhar por mérito ele nos engana e ilude, forçando sua imerecida conquista em cima de muitos.
As ferramentas demoníacas parecem similares, mas não é bem assim. Há um intrincado sistema desenvolvido por satanás e seus asseclas. Ele se utiliza de tudo e do improvável também. O diabo usa a banda podre da mídia vendida. A desinformação e a mentira geram confusão e desordem que atrapalham o equilíbrio mental. Dessa situação surgem o medo e o desespero, a sensação de que tudo está perdido e que afeta o equilíbrio dos sentimentos. Dessa insegurança sobre o que nos cerca vem a alienação como falsa solução para todos os problemas do mundo. E por uma falsa sensação de segurança, vende-se a alma ao diabo.
A crise que enfrentamos tem razões sócio-econômicas? Claro que sim. Há questões culturais e geopolíticas envolvidas? Por óbvio. É um embate entre poderes que pretendem dominar em nível global? Efetivamente. Não tem nada de teoria conspiratória nisso tudo, basta um exame mais profundo para perceber. Entretanto, há que se levar em conta também o plano espiritual da coisa toda. Tem dedo de satanás nesse pandemônio planetário? Tem sim. E digo que até mais que um dedo, talvez a mão inteira ou ambas.
Fiquemos todos atentos para não ser iludidos pelo diabo. Hoje em dia devemos ser cada vez mais céticos diante das realidades terrenas. É preciso estar bem informado, com informações verdadeiras e que esclareçam os fatos. É fundamental manter a normalidade e encarar a realidade com naturalidade, para termos a segurança de continuar vivendo um dia de cada vez. Somente assim não seremos alienados pelas narrativas construídas para nos dominar.
Como John Milton diria, a mente é seu próprio lugar e ela está em si mesma. Pode fazer céus do inferno e também inferno de céus. E longo e árduo é o caminho que conduz do inferno à luz. Porém, toda a maldade é fraqueza. Este pandemônio vai passar e tiraremos grandes lições dele. Chegará o tempo em que nada ficará escondido e ficará às claras as más intenções de tantos. A verdadeira maldição do diabo é que ele, vivendo de iludir os outros, na verdade é o maior iludido entre todos. Ele pensa que pode ganhar de Deus. Mas, no fundo, sabe que já entrou em campo derrotado.

Amém.

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