A beleza que comunica unidade
por Celso Tomba
Quem acompanha o site de notícias do Vaticano – o Vatican News – já deve ter se deparado com a campanha “Arte que consola”. Periodicamente, uma imagem de uma obra de arte dos Museus Vaticanos é publicada no site acompanhada de uma reflexão feita por um Papa. Teve início no final março deste ano, quando a pandemia de coronavírus já era uma realidade em muitos países. Na justificativa, um reconhecimento do papel da arte em dias turbulentos: “A beleza cria comunhão, envolve no mesmo olhar povos distantes, reúne passado, presente e futuro. (…) A universalidade da Boa Nova sempre foi traduzida pela Igreja na linguagem da arte. Destas premissas, num momento histórico dramático, caracterizado por incerteza e isolamento, nasce esta iniciativa realizada em colaboração pelos Museus Vaticanos e Vatican News: as obras-de-arte das coleções vaticanas comentadas com palavras dos Papas.”
A publicação – que no início teve periodicidade diária e agora semanal – conta com pinturas, afrescos, esculturas e outras obras de arte que fazem parte do acervo dos Museus Vaticanos. Um tesouro de valor inestimável! Os comentários são trechos retirados das mais diversas manifestações dos Papas, conectados ao conteúdo da obra, que nos levam a aprofundar ainda mais a percepção da beleza produzida pelo artista.
Foi na abertura de uma exposição no Vaticano, no ano passado, que o Papa Francisco destacou a importância da arte produzida pelos diversos povos do mundo e refletiu sobre o papel da instituição: “Penso que os Museus Vaticanos são chamados cada vez mais a se tornar uma casa viva, habitada e aberta a todos, com as portas escancaradas aos povos do mundo inteiro. Quem entra aqui deve sentir que nesta casa também há lugar para ele, para seu povo, sua tradição, sua cultura. Todos os povos estão aqui, na sombra da cúpula de São Pedro, pertos do coração da Igreja e do Papa.”
“A beleza nos une. Nos convida a olhar para cada cultura, para o outro, com abertura de espírito e com benevolência. E contrasta com a cultura do rancor.” (Papa Francisco)
A arte é uma forma de comunicação presente na história da humanidade desde os seus primórdios. Expressa sentimentos, conta histórias, revela desejos, sonhos e aspirações, do artista e de sua comunidade. A partir da forma de se manifestar e das técnicas que utiliza, cria uma linguagem própria, carregada de significados muitas vezes só acessíveis àquele grupo social. Torna-se expressão de um povo!
Como toda forma de expressão, nem sempre é compreensível ao primeiro contato do “estrangeiro”. Quem é de fora daquele grupo social, pode ter dificuldade para compreender o significado das manifestações. O nosso olhar acaba aprendendo a reconhecer a beleza somente de acordo com o olhar de nossa cultura, do jeito de ser do nosso grupo social.
Para superar o primeiro olhar de estranhamento, precisamos ir além das nossas primeiras impressões. É preciso compreender o contexto daquele povo, a linguagem e os símbolos que utiliza para se expressar através de sua arte, de sua cultura. Como nos diz o papa Francisco, é preciso ter “abertura de espírito e benevolência” para com as outras culturas, para que possamos aproveitar a beleza e a riqueza das diferentes manifestações artísticas da humanidade. “A arte não é uma coisa desarraigada: a arte nasce do coração dos povos. É uma mensagem do coração dos povos ao coração dos povos!”