16º Domingo do Tempo Comum (Mt 13,24-43)
Por Diácono Valdeci Florentino dos Santos
Paróquia Nossa Senhora Aparecida
“Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo.”
O Evangelho deste domingo nos garante, antes de mais, que o “Reino” é uma realidade irreversível, que está em processo de crescimento no mundo. É verdade que é difícil perceber essa semente a crescer ou esse fermento a levedar a massa, quando vemos multiplicarem-se as violências, as injustiças, as prepotências, as escravidões… É difícil acreditar que o “Reino” está em processo de construção, quando o materialismo, a futilidade, o comodismo, a procura da facilidade, o efêmero sobressaem, de forma tão marcada, na vida de grande parte dos homens e das mulheres do nosso tempo… A Palavra de Deus nos convida, contudo, a não perder a confiança e a esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do “Reino” está presente, minando positivamente a história e a vida dos homens.
Na verdade, falar do “Reino” não significa falarmos de um “condomínio fechado”, ao qual só tem acesso um grupo privilegiado constituído pelos “bons”, pelos “puros”, pelos perfeitos”, e de onde está ausente o mal, o egoísmo e o pecado… Falar do “Reino” é falar de uma realidade em processo de construção, onde cada homem e cada mulher tem o direito de crescer ao seu ritmo, de fazer as suas escolhas, de acolher ou não o dom de Deus, até à opção final e definitiva. É falarmos de uma realidade onde o amor de Deus, vivo e atuante, vai introduzindo no coração do homem um dinamismo de conversão, de transformação, de renascimento, de vida nova.
Temos também uma lição muito sugestiva sobre a atitude de Deus face ao mal e aos que fazem o mal. Na parábola do trigo e do joio, Jesus nos garante que os esquemas de Deus não preveem a destruição do pecador, a segregação dos maus, a exclusão dos culpados.
O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de misericórdia, sem pressa para castigar, que dá ao homem “todo o tempo do mundo” para crescer, para descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas. Não percamos nunca de vista a “paciência” de Deus para com os pecadores: talvez evitemos ter de carregar sentimento de culpa que oprimem e amarguram a nossa breve caminhada nesta terra.
A “paciência de Deus” com o joio convida-nos também a rejeitarmos as atitudes de rigidez, de intolerância, de incompreensão, de vingança, nas nossas relações com os nossos irmãos.
O “senhor” da parábola não aceita a intolerância, a impaciência, o radicalismo dos “servos” que pretendem “cortar o mal pela raiz” e arrancar o mal (correndo o risco de serem injustos, de se enganarem e de meterem mal e bem no mesmo saco). Às vezes, somos demasiados ligeiros em julgar e condenar, como se as coisas fossem claras e tudo fosse, sem discussão, claro ou escuro… A Palavra de Deus nos convida a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa intransigência e a contemplar os irmãos (com as suas falhas, defeitos, diferenças, comportamentos religiosa ou socialmente incorretos) com os olhos benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.
Sem alternativa!
O bom grão semeado no nosso campo era promessa de uma boa ceifa. Mas eis que o joio veio poluir a seara. Que tipo de compromissos aceitamos na nossa vida? Deus é paciente! Mas se temos ouvidos, é urgente escutar o seu apelo à conversão. É urgente escolher o nosso campo: o do Senhor ou o do Maligno. Não há alternativa!
Amém!