Temário
Bernardo de Campos
De rigor, não caberia na especificidade e característica de uma crônica, a escolha dela sob este título, o de Temário.
É utilizar-se do significado estrito desse vocábulo, para a licença de se explicar que ora se deseja, explicitamente diluir, em breve conteúdo, variegadas considerações.
Faz-se, então, enumerar alguns enfoques, estes sim evidentes e inequívocos, quiçá surpreendentes.
O momento, ano de 2020 que já vai pela metade, traz um bloco de penúrias, desconforto, dor, apreensão e – esta fere fundo – saudade dos milhares de irmãos que se vão às centenas e aos milhares até, Brasil afora.
Uma nódoa imposta ao mundo, para demonstrar o quão impotentes e falíveis somos. Hora seria, pois, de um como que vasto amplexo de união e aprendizado de mútua solidariedade. Irmanarem-se na mesma causa povos e nações.
Consigne-se, por ser notório e verdadeiro, evidente e indiscutível, o descaso oficial para com a pandemia. Acéfalo, o Ministério da Saúde, tudo entregue apenas a leigos em medicina, preocupados exclusivamente com uma apuração estatística diária, de quantos os acometidos e falecidos pelo Covid-19.
Inevitável, da parte das Igrejas, o cancelamento das missas e festas litúrgicas e o cerrar dos templos. Louve-se o denodo daqueles párocos, criativos, a idealizar contato com os fiéis pelos celulares. Na televisão, outra salvaguarda já consagrada, a de se disponibilizar de tantos canais assumidamente católicos. Na data recente de Corpus Christi, feliz a inspiração em Itu, de que o Santíssimo, em carro aberto, tenha percorrido as ruas da cidade.
De um salto, evidenciar o quanto o futebol apaixona e contagia. Como fizeram falta as partidas de quarta e domingo, pela televisão. O recurso de reprisar jogos do passado, amenizou um pouco nesse aspecto. Não desprezível, mas também sem maior interesse, a infinidade de reapresentação de arquivos do gênero.
Em tempos de outrora, durante o inverno e no ápice da repercussão dos Cursilhos de Cristandade, formavam-se grupos de três a quatro voluntários, a percorrer os recantos da cidade, para recolher indigentes, acomodados aqui e ali. Localizados, policiais eram informados e os recolhiam ainda que precariamente. Não dormiam ao relento.
Bem a propósito, há um senhorzinho e qualquer transeunte o conheceria, com certeza, que mora ao relento, no Jardim do Carmo. Toda noite ele amarra os seus pertences ali mesmo, num poste de esquina. Atravessa a rua e pernoita, sentadinho na porta da agência da Vivo.
Corriqueiro – e obrigatório agora – o condicionamento de uso das máscaras. Quem o diria banal e encontradiço, apenas nos fevereiros da vida?
De todo modo, vige agora tal disfarce, expediente de salvaguarda sanitária, conquanto às vezes dificulte ou impeça o reconhecimento das pessoas em si.
Alteradas para o mês de novembro, as eleições municipais. Em face de todo o vapor no andamento da pandemia, algum vidente asseguraria que, prorrogadas, elas não mais sofrerão adiamento?
Praza aos céus, então, que o Brasil do próximo janeiro, situe-se melhor, ao poderem respirar mais aliviados, todos e cada um dos seus habitantes.
Estão aí, pois, enfoques trazidos bem ao sabor das crônicas, elas costumeiramente nascidas do improviso. Surgem.
Respeitosa e confiantemente, Deus nos valha.