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“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

Caríssimos leitores e leitoras: a liturgia do 14º Domingo do Tempo Comum, que celebraremos no próximo domingo (5 de julho), ensina-nos onde encontrar Deus. Nos garante- que Deus não se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza, na pequenez. “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29) é o convite que Jesus estende às pessoas cansadas e oprimidas que, num ato de fé, tomam sobre si o seu jugo; isto é, tornam-se seus discípulos e encontram descanso e o verdadeiro sentido para as suas vidas.
Quando tomamos o nome de Cristo sobre nós, espera-se que nos esforcemos para imitar suas virtudes e nos tornemos mais semelhantes a Ele a cada dia. O Salvador, admoestando seus discípulos, disse: “Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Se assumirmos o modo de ser e de viver de Jesus, renunciando a todo mal e iniquidade, então, por meio de sua graça divina, poderemos crescer na santidade e na amizade com Deus e com nossos irmãos. Este caminho da santidade a mansidão é uma das principais características do cristão.
A mansidão é a característica daquele que é brando, pacífico e que possui moderação nas ações. Ser manso é o oposto de ser agressivo e rude. Não imaginem que ser manso é ser aquela pessoa indiferente e fria, que não se abala com as dificuldades e os desafios que a vida nos apresenta. Pelo contrário, manso é aquele coração que está atento ao que está acontecendo, mas não está tomado pelos sentimentos azedos, amargurados e, sobretudo, violentos da vida. Algumas pessoas, equivocadamente, identificam a mansidão com um tipo de fraqueza, porém seu significado expressa exatamente o contrário. A mansidão é uma qualidade que capacita alguém a controlar a força e aplicá-la corretamente. O coração manso é aquele cujo coração primeiro escuta, faz discernimento para, depois, tomar a decisão em qualquer situação, de modo que, para ser manso de coração é preciso escutar, refletir, pensar e buscar a serenidade de espírito.
São Paulo mencionou a mansidão como um dos frutos do Espírito (Gl 5,23), ensinando que a verdadeira mansidão não provém da própria natureza humana, mas é uma virtude gerada pelo Espírito Santo, e imprime naqueles regenerados pelo Batismo um caráter semelhante ao de Cristo. A mansidão é uma qualidade que indica que somos guiados pelo Espírito Santo e, por isso, os mansos não se desesperam nas adversidades, pois confiam que tudo está sob o controle de Deus, e nada foge de seu propósito.
Em outras palavras, a mansidão está relacionada com a nossa confiança na providência de Deus, não sendo algo meramente externo, mas flui de um interior submisso à vontade Dele. É a quietude de um coração que descansa nas mãos de Deus, mesmo que em meio às piores adversidades. É por isso que a mansidão sempre foi relacionada pelos teólogos antigos como um ponto de ligação das três virtudes teologais: caridade, fé e esperança.
Outro passo importante para nos tornarmos mansos é aprender a controlar nosso temperamento. Como o ser humano velho habita dentro de cada um de nós e como vivemos num mundo cheio de pressões, o controle de nosso temperamento pode se tornar um dos desafios de nossa vida. Pensemos, por exemplo, naqueles momentos em que somos contrariados, esquecidos ou humilhados. Ou quando as pessoas discordam de nossas ideias ou somos ofendidos, criticam nossos esforços ou simplesmente são rudes conosco por estarem de mau humor. Nesses momentos e em outras situações difíceis, precisamos aprender a controlar nosso temperamento e expressar nossos sentimentos com paciência e gentil persuasão. Isso é extremamente importante dentro do lar, no trabalho e também na Igreja. Controlar nossas reações, sendo calmos e comedidos, evitando contendas e brigas: eis os frutos do dom da mansidão.
Por fim, devemos nos lembrar das palavras do nosso Senhor Jesus que, no Sermão da Montanha, nos diz: “Bem-aventurados os mansos, pois eles herdarão a terra” (Mt 5,5). Esse tipo de mansidão, sem dúvida, aponta para a postura de humildade e completa submissão a Deus: “Alguém poderia objetar: ‘Mas, se eu for assim manso, pensarão que sou insensato, estúpido ou frágil’. Talvez seja assim, mas deixemos que os outros pensem isso. É melhor sermos sempre mansos, porque assim se realizarão as nossas maiores aspirações: os mansos ‘possuirão a terra’, isto é, verão as promessas de Deus cumpridas na sua vida. Porque os mansos, independentemente do que possam sugerir as circunstâncias, esperam no Senhor, e aqueles que esperam no Senhor possuirão a terra e gozarão de imensa paz” (Papa Francisco, Exortação Apostólica Gaudete et exsultate [“Sobre o chamado à santidade no mundo atual”], n. 74).
Que o Senhor nos conceda a virtude da mansidão a cada momento.

A todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano de Jundiaí

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