Solução da crise pela  união e solidariedade
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Vivemos um momento de grave crise civilizatória e de ameaça da vida. Diante dessa trágica situação, algumas pessoas começam a perceber a importância da união e da solidariedade para superá-la. A experiência do diálogo no reconhecimento das diferenças pode nos indicar um caminho nessa direção. Essa prática se alicerça na necessidade primordial de superarmos os antagonismos, as guerras, a violência, a devastação da natureza, as injustiças e as violações dos direitos humanos.
Tendo convivido não apenas com diversas espiritualidades e religiões, mas também com pessoas de modos de ser e pensar distintos, acredito que esse caminho possa vir a incluir todas pessoas que aspiram atualmente por uma renovação da humanidade. Venho observando gestos de união e solidariedade manifestados em comunidades desprotegidas e abandonadas do Brasil. As pessoas estão aprendendo a se unir e se organizar de forma solidária, onde o poder político está ausente. Esses gestos se realizam concretamente sem se preocupar com as diferenças de pontos de vista e modos de ser, e nos fornecem exemplos de ações concretas a serem multiplicadas.
Meu percurso intelectual e científico me proporcionou um constante diálogo entre materialismo e espiritualidade, e cheguei à conclusão de sua relevância para nossa época. Meu itinerário por diferentes caminhos espirituais me levou a reconhecer suas contribuições para a realização dos valores e ideais humanos e a procurar entender como eles se inserem na obra universal de Deus, à luz da mensagem de Cristo. Minha participação no diálogo de experiência entre monges de diferentes tradições religiosas me ensinou que o diálogo não pode se restringir apenas ao nível das ideias, mas deve ser concretizado nas relações e convivências de reconhecimento mútuo, a serem cultivadas pelos que aspiram à superação da atual crise e a uma renovação humana.
Recebi um sinal de valorização concreta da universalidade do diálogo, logo após tomar a decisão de ingressar num mosteiro beneditino. O sinal veio num sonho. Nele, eu caminhava pela minha rua, em companhia de uma amiga, até o calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para ver o nascer do sol. Nós estávamos contemplando a beleza do seu despontar no horizonte, quando percebi um grupo de monges indianos com seus hábitos cor de laranja sentados na areia. No meio da primeira fileira estava minha antiga mestra de meditação, que me fazia um sinal para sentar no lugar vazio junto a ela. Inicialmente, eu hesitei, tendo me ocorrido a ideia de que eu queria ser monja beneditina e não indiana. Entretanto, o fato dela estar sentada entre os monges em oração para Deus abriu meu coração, e num impulso fui sentar-me, no lugar vago ao lado dela, sem mudar o hábito beneditino que estava usando. Senti que todos juntos partilhávamos a alegria de estar voltados para o raiar do novo dia. Eles me aceitavam como monja beneditina e eu os aceitava como monges de outra tradição, e todos mirávamos o raiar da aurora. Senti Cristo iluminar meu coração e nos unir na contemplação dessa esplendorosa manifestação da obra de Deus.

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