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Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”

A Companhia de Jesus foi a Ordem religiosa mais influente na Igreja durante a história moderna. Criada em 1540 por sete homens obstinados pela vida missionária, dez anos depois já aportava na Bahia o primeiro grupo de seus membros. Vinham evangelizar os indígenas e criar colégios nas vilas que se formavam. Tamanha foi a sua influência sobre a sociedade que, duzentos anos depois o Estado português, então dirigido pelo Marquês de Pombal, resolveu encerrar as atividades da Companhia em suas colônias. Alegava que a educação jesuítica e a atuação missionária não combinavam com o mundo iluminista de progresso e razão preconizado pelo Estado. Em 1773 a Ordem foi supressa.
Reorganizada em 1814, trinta anos depois os jesuítas estavam de volta; era um sonho que contagiava muitos jovens sacerdotes na Europa do séc. XIX: vir à América do Sul e continuar a obra dos primeiros companheiros. Clemente Vigna era um deles. Nasceu na Toscana, possivelmente em Massa Carrara a 18 de dezembro de 1824, mesma cidade em que ingressou na Companhia de Jesus com dezenove anos (1843). Nesse seminário já estudava seu irmão Pietro. Depois de alguns anos de preparação, lecionou Humanidades no colégio de Orvieto. Afastou-se da Companhia e foi ordenado padre provavelmente na sua diocese de origem. Em 1855 retornou à Ordem dos jesuítas.
Após um tempo de estudos privados, Clemente Vigna estava pronto para a experiência missionária. Ele e seu irmão integravam o grupo de jesuítas da Província de Turim envolvidos com a Missão Romana. Em 1864 chegaram à Argentina. No colégio de Santa Fé, Clemente foi “prefeito dos alunos”, responsável por organizar os estudos. Em Córdoba também lecionava Filosofia.
Em janeiro de 1867, Clemente foi enviado a Florianópolis para compor o primeiro grupo de professores do Colégio Santíssimo Salvador. Mas a abertura da escola em Itu, a 12 de maio daquele ano, mudou tudo. Iniciado com dezoito alunos, no fim do ano já estava com sessenta e o corpo de professores era reduzido a dois porque o padre Taddei adoeceu. Rejeitando o contrato de professores leigos, o superior da Missão destinou a Itu o padre Clemente Vigna.
A 30 de setembro chegava ao Convento Franciscano, sede do colégio. Foi o primeiro ministro, responsável pela casa e pela organização dos estudos. De imediato também se tornou o professor de Francês, História e Geografia.
A precariedade dos primeiros tempos do internato foi o grande desafio ao padre Clemente nos cinco anos de estada em Itu. Ampliada a comunidade e instalada em novo prédio, no início de 1873 Vigna pôde retornar à Toscana, a fim de exercer, por mais trinta anos, a direção de educandários jesuítas. Viveu em Turim, Ventimiglia, Saluzzo e Gênova, aonde veio a falecer a 4 de janeiro de 1898. Seu irmão Pietro, mais velho sete anos, companheiro de ideais e fé nunca esteve em Itu, mas deve ter ouvido muitas histórias do colégio e do povo ituano.

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