Futebol tenta driblar o vírus e a Lei
Era ótima a intenção de esperar o controle do vírus. Mas as contas seguem batendo à porta. No início da quarentena provocada pela pandemia do novo Coronavírus, os grandes de São Paulo tomaram posição conjunta: não treinar e aguardar o momento certo para retornar às atividades. Saúde em primeiro lugar, era o lema.
Nobre, justo, correto, óbvio. Mas passaram-se mais de três meses e o Brasil segue na contramão do mundo na luta contra o vírus. Enquanto os países europeus se trancafiaram para achatar a temida curva, aqui, vivemos exatamente o inverso. Jamais tivemos um real bloqueio, uma quarentena para valer, com apenas pessoas indispensáveis em suas atividades profissionais indo às ruas. Pior, com o passar do tempo, em meio aos desmandos governamentais, mais brasileiros saíram de casa.
A covid-19 aproveita, se espalha, já matou mais de 50 mil pessoas, fora os casos subnotificados, e o Brasil se firmou no segundo lugar do ranking mundial de óbitos provocados pela doença. Em suma, não avançamos, regredimos.
Passados os três meses suportáveis, os clubes de São Paulo, e não somente eles, sentem a asfixia financeira provocada pela brusca queda de receitas. Não há mais como esperar o momento adequado, pois ninguém sabe se ele realmente virá e muito menos quando. Por isso, os maiores do futebol paulista se reuniram com prefeito, reivindicaram ao governo estadual, mostraram seus protocolos de segurança, lutaram pela autorização.
E amanhã, força de expressão, seus atletas poderão novamente treinar, mas sem a devida atenção, responsabilidade e profissionalismo do futebol europeu. Os clubes, apresentam diferentes argumentos para o retorno às atividades. As justificativas vão das finanças estranguladas à preocupação com o estado físico e técnico dos atletas.
Era ótima a intenção de esperar que o novo coronavírus fosse controlado no Brasil. Mas as contas seguem batendo à porta, as folhas de pagamento, mesmo com reduções, ainda são elevadas e há uma cota da televisão pelas transmissões do campeonato paulista pendente.
Voltar aos jogos será preciso para que os cofres sejam oxigenados. Além disso, patrocinadores seguem escondidos sem a bola rolando. Ainda não se sabe quando será possível, mas para que aconteça, os jogadores devem estar aptos. Não será surpresa alguma, se, independentemente do crescimento da curva, do número de infectados e das mortes, presenciarmos a defesa pelo retorno dos jogos em São Paulo. Em meio ao caos nacional, o futebol tenta aprender a conviver com o vírus e a driblá-lo.
Lei do EUA x BR
Nesta segunda-feira, a Corte de Apelações do Segundo Circuito (o equivalente a um Tribunal Regional Federal no Brasil) decidiu manter as decisões de primeira instância que condenaram Marin e o ex-presidente da Conmebol Juan Angel Napout por múltiplos crimes de corrupção relacionados a futebol. A decisão tem pouco efeito prático no caso de Marin, que há dois meses está no Brasil. Ele cumpria sentença numa penitenciária no estado da Pensilvânia, mas teve sua pena reduzida por causa da pandemia do novo coronavírus. Marin está em sua casa, em São Paulo. Juan Angel Napout, por sua vez, terá que cumprir até o final a pena de nove anos de prisão a que foi condenado.
O que espanta, a pessoa de bem, é claro, é que no recurso apresentado por Marin, seus advogados buscavam a anulação do julgamento em primeira instância.
O principal argumento da defesa era de que, pasmem, não foi possível seguir a lei brasileira – onde não existe o crime de corrupção privada, pelo qual ele acabou condenado nos EUA. A tese não foi aceita pela Corte de Apelação. Marin e Napout ainda podem recorrer à Suprema Corte dos EUA.