Padre José de Campos Lara
por Prof. Luís Roberto de Francisco
Uma discreta urna na taipa da capela mor da igreja do Bom Jesus guarda os restos mortais de um dos mais célebres e influentes ituanos do século XVIII, o padre José de Campos Lara. Em 1956, ao assentar o piso hidráulico na igreja, os pedreiros notificaram o padre Victor Fernandes SJ: haviam encontrado um caixão com os restos mortais que a Companhia de Jesus tanto desejava, os despojos do padre Campos Lara, nascido em 1733 e aqui também falecido em 19 de fevereiro de 1820, há exatos duzentos anos.
Campos Lara tem sua biografia envolta em milagres e mistérios. Membro da Companhia de Jesus desde 1750, viveu em São Paulo e Salvador. Mas o decreto do Marquês de Pombal, que expulsou do Brasil todos os jesuítas, também o atingiu. Foi para Lisboa e de lá para Roma, aonde chegou durante uma epidemia. Seu irmão Miguel, também jesuíta, fez-se mártir no cuidado dos enfermos.
O ituano viveu em Roma por 25 anos, quando completou os estudos e lecionou. Em 1773 a Companhia de Jesus foi supressa por Clemente XIV e ele, como milhares de jesuítas pelo mundo, aguardava ansiosamente a reorganização da Ordem. Eram tempos difíceis para a Igreja, época da Revolução Francesa e seu anticlericalismo. Os jesuítas representavam a resistência.
Campos Lara conheceu e conviveu com santo Afonso de Liguori, fundador dos Redentoristas e propagador da devoção à Eucaristia. Foi amigo próximo do beneditino Barnaba Chiaramonti e dele profetizou a eleição para o papado.
Em 1785, no porto de Cività Vecchia (Roma) encontrou um jovem que lhe entregou um quadro retratando Nossa Senhora do Bom Conselho, dizendo que voltasse à terra natal e que aqui, no futuro, haveria um grande colégio dos jesuítas, apontando para um barco que o traria ao Brasil graciosamente. Foi o único dos 669 jesuítas expulsos por Pombal a retornar.
Campos Lara, de família abastada, em Itu recebeu uma herança em propriedade de terras e nela desenvolveu agricultura. Construiu também uma escola para meninos pobres, o início do projeto educativo predito pelo misterioso menino. Com alegria soube da eleição de seu amigo Chiaramonti, que se tornou o papa Pio VII, e em 1800, que em 1814, restabeleceu a Companhia de Jesus.
Atribui-se a Campos Lara o início da devoção ao Sagrado Coração de Jesus em Itu, com um altar na igreja matriz e uma pintura no teto do Bom Jesus.
Após quatro décadas de sua morte os jesuítas chegaram a Itu. Continuaram a devoção ao Sagrado Coração, iniciando aqui o Apostolado da Oração! Fundaram um colégio que se tornou a maior instituição de ensino do país em fins do século XIX, instalado justamente na chácara deixada pelo velho jesuíta. O Colégio São Luís, hoje em São Paulo, preserva a pintura original de Nossa Senhora do Bom Conselho, elo que une mais de três séculos de história.
Campos Lara foi o intelectual que influenciou, na juventude, Dom Antonio Joaquim de Melo, o bispo que reorganizou a Igreja paulista.