As origens da festa das Candeias
Compartilhe

por Evandro Antônio Correia

Egéria – Justino – Justiniano

Caros leitores, há alguns anos escrevi um artigo sobre as origens da Festa das Luzes (a Candelária) na Revista da Academia Ituana de Letras. Quero, com os próximos artigos, reapresentá-lo. Estou antecipando o assunto por dois motivos: penso em uma preparação conjunta para o Natal, o fundamento da Encarnação que se projeta no Mistério salvífico da humanidade através das manifestações de Deus e a festa das luzes é uma dessas epifanias; e, por segundo, na época da Candelária artigos… não faltarão…! No entanto, estou preparando assuntos interessantes sobre Direito Canônico. Vamos, então, passar para a história litúrgica da celebração das candeias!

Em Jerusalém no século IV
A primeira comemoração litúrgica deste episódio evangélico de Lc 2,22-39, é oriental. Celebra o acontecimento do «encontro do Senhor» com o velho Simeão. Daqui o nome grego hypapante, occursus Domini em latim. O velho Simeão e a profetisa Ana reconhecem no Menino Jesus o esperado Messias. O encontro, porém, fora ocasionado pela observância da lei mosaica da purificação para a mãe e do resgate para o primogênito. Isto explica a evolução que esta celebração receberá no decorrer dos tempos. Segundo a Lei mosaica, quarenta dias após o nascimento do primogênito, cada mãe hebreia deveria apresentar-se ao Templo para ser purificada e resgatar o recém-nascido do sacrifício (Ex 13, 2.11-13 e Lv 5,7;12,2-8).
A mais antiga e segura fonte da celebração deste acontecimento, testemunhada em Jerusalém, está no livro Diário de Egéria (395). São os relatos da peregrinação feita no Oriente próximo pela nobre Egéria. Definiu a festa com o nome genérico de Quadragesima de Epiphania (quarenta dias depois da Epifania), isto é, 14 de fevereiro. Era celebrada com grande solenidade e que numerosos fiéis procediam em direção à igreja da Anástasis (a igreja da Ressureição, junto ao Santo Sepulcro) em ordem e com grandíssima alegria como se fosse no dia da Páscoa; porém, não se refere à uma provável celebração da luz. Assim, de Jerusalém esta solene celebração difundiu-se aos poucos por todo o Oriente.

No Império do Oriente no século VI
Em Jerusalém, como vimos, a data não coincidia, pois, o calendário utilizado era aquele juliano, com cálculos diferentes do atual (gregoriano). O Natal era festejado em 6 de janeiro, consequentemente o hypapante acontecia no dia 14 de fevereiro (os Ortodoxos ainda utilizam o calendário juliano na liturgia). Assim, na expansão do Império Romano do Oriente (cristão), do sec. VI, relata o Patriarca Severo que se celebrava o hypapante em Antioquia, no resto da Palestina e em Constantinopla, a capital. Alguns historiadores bizantinos indicam outras fontes: Teófane, o confessor, diz que o imperador Justiniano (542), após uma peste, ordenou que se celebrasse o hypapante em Constantinopla e no Império; de sua parte Nicéforo (na «História Eclesiástica» por Eusébio de Cesaréia) atribuiu ao imperador Justino (527). Porém, as várias informações devem ser conciliadas, provavelmente a festa de hypapante se celebraria em alguma igreja de Constantinopla, Justino a estendeu para a cidade e ao Império; Justiniano na ocasião da peste teria dado maior impulso à festa.

Até a próxima!

Deixe comentário