A Teologia do Corpo: A Solidão Original
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Caros amigos, São João Paulo II desenvolve o conceito de “Solidão Original” no primeiro ciclo de sua Teologia do Corpo a partir do seguinte texto: “O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada’. Tendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos, e todas as aves dos céus, levou-os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; e todo o nome que o homem pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome. O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos os animais dos campos; mas não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada” (Gn 2,18-20).
Quando Deus diz que “não é bom que o homem esteja só”, podemos entender essa solidão do homem em dois sentidos segundo o Papa: o primeiro provém da própria condição do homem enquanto criatura, ou seja, da sua própria humanidade; o segundo segue-se do fato da relação entre homem-mulher que é evidente nessa narrativa.
Neste artigo meditaremos sobre o primeiro significado. O homem percebe essa solidão original quando ele nomeia todos os animais e se vê diferente de todas as criaturas que o rodeiam. Pela primeira vez o homem toma consciência que ele é corporalmente diferente de todas as espécies vivas, e mais do que isso, ele é diferente pois é um ser pensante, já que o mesmo é capaz de dar nome às criaturas: “O homem, assim formado, pertence ao mundo visível, é corpo entre corpos. […] O corpo, mediante o qual o homem participa do mundo criado visível, torna-o ao mesmo tempo consciente de estar ‘só’. De outro modo não teria sido capaz de chegar a essa convicção a que efetivamente, como lemos, chegou, se o seu corpo não o tivesse ajudado a compreendê-lo, tornando o fato evidente. […] Baseando-se na experiência de seu próprio corpo, o homem, ‘adam’, poderia ter chegado à conclusão de ser substancialmente semelhante aos outros seres vivos (animalia). Ao contrário, como lemos, ele não chegou a esta conclusão, pelo contrário chegou à convicção de que estava ‘só’” (São João Paulo II. Audiência em 24/10/1979).
O homem, com isso, é caracterizado não simplesmente por TER um corpo, mas por SER um corpo, pois, ao se confrontar com o mundo criado, o homem, através de sua autoconsciência, percebe que é diferente. Isto só é possível mediante o conhecimento do próprio corpo. Mais ainda, é o corpo que o atenta que ele é um ser relacional.
Disto, como pessoa é um ser relacional, o Papa conclui: “A análise do texto javista permite-nos também relacionar a solidão original do homem com a consciência do corpo, mediante a qual o homem se distingue de todos os animalia e ‘se separa’ deles, e também mediante a qual ele é pessoa” (Idem). Ora, como Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, e sendo Ele trinitário e relacional no Pai, Filho e Espírito Santo, assim o homem seguindo à risca Sua imagem é relacional também.
Relacional com quem? Vai se questionar o primeiro homem. Antes da criação da mulher, não encontrando ninguém que lhe fosse digno, sua solidão original o obrigará a olhar para o alto e perceber o ser relacional por excelência: Deus. O homem se vê criado para um relacionamento com Deus, ele é capaz de Deus e ele precisa de Deus para preencher a solidão que habita dentro de si: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti” (Santo Agostinho. Confissões, I, 1, 1).
No próximo artigo ainda falaremos da “Solidão Original”, porém, lá, sob o seu segundo aspecto: Deus-Amor, que convida cada homem, cada mulher a viver em uma perfeita unidade e complementariedade Nele.

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