A Teologia do Corpo (II): No princípio…
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por Pe. Enéas de Camargo Bete

Caros amigos, alguns fariseus se aproximaram de Jesus com o intuito de o testarem no conhecimento da lei, perguntando a Ele se era permitido a um homem repudiar a sua mulher, por qualquer motivo. Assim Jesus respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: ‘Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne’? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem”. Os fariseus, em seguida, questionaram Jesus: ‘Por que foi então, perguntaram eles, que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio ao repudiá-la?”. Ao que Jesus replica, concluindo: “Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas no princípio não foi assim” (Mt 19,4-8).

Desse texto, e especificamente das palavras “no princípio”, são João Paulo II desenvolve o primeiro ciclo de suas catequeses sobre a Teologia do Corpo (TdC). Aqui, o Papa nos exorta para atentarmos às palavras de Cristo que nos remete ao projeto inicial de Deus sobre o ser humano. Assim, esse “no princípio não era assim” refere-se àquilo que o Papa chamou de o “homem original”, ou seja, o homem antes do pecado original, parâmetro para o descobrimento da essência humana: “Poder-se-ia, nesta altura, defender que o problema está terminado, que as palavras de Jesus Cristo confirmam a lei eterna, formulada e instituída por Deus «desde o princípio», desde a criação do homem. Poderia também parecer que o Mestre, ao confirmar esta lei primordial do Criador, não faz senão estabelecer exclusivamente o próprio sentido normativo dela, apelando para a autoridade mesma do primeiro Legislador. Todavia, aquela expressão significativa «desde o princípio», repetida por Cristo, leva claramente os interlocutores a refletirem sobre o modo como no mistério da criação foi moldado ser humano, precisamente como «homem e mulher», para se compreender corretamente o sentido normativo das palavras do Gênesis” (Audiência de 5 de Setembro de 1979).

Desta forma, São João Paulo II começa a TdC literalmente pelo princípio, desenvolvendo uma análise muito profunda da criação do ser humano, a que chamou de “antropologia adequada”, para nos dar uma visão integral do ser humano. Ele demonstra, por exemplo, que sem precisar de nenhuma explicação teológica, nossos primeiros pais sabiam que eram chamados a participar de uma comunidade de Amor feita da unidade entre Deus e o ser humano, o ser humano e o restante da criação e entre o homem e a mulher. Por tudo isso, no primeiro ciclo de suas catequeses são abordados temas como: a pessoa humana, imagem e semelhança, homem e mulher os criou, a vida como dom, os dons naturais e preternaturais, a inocência original, a solidão original, a nudez original, liberdade e livre-arbítrio, a dimensão teológica do corpo (o corpo humano é o lugar da manifestação de Deus que o criou para nele se revelar) e o amor esponsal.

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