A Trindade que cria, salva e santifica
Dom Vicente Costa – Bispo Diocesano
Caríssimos leitores e leitoras: o mistério da Santíssima Trindade, que celebramos solenemente na Igreja no último domingo, é um dos mais importantes na fé cristã. Portanto, gostaria de convidá-los para meditarmos sobre as ações do Pai, do Filho e do Espírito Santo, essa comunidade divina feita de comunhão profunda e de perfeito amor entre as três Pessoas Divinas, a perfeita comunidade.
Pensemos em Deus Pai que tudo criou. A fé cristã afirma que o Criador fez todo o Universo e todas as criaturas, mas somente nós, criaturas humanas, fomos criadas “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26). Podemos contemplar o poder de Deus na grandiosidade e beleza dos planetas, que nos causam espanto; na perfeição do ciclo da natureza, na simplicidade de um pássaro que canta. E somente sobre a espécie humana o Salmista, admirado, pergunta: Senhor, “que é o ser humano, para dele te lembrares?” (cf. Sl 8,5).
O mundo anda esquecendo que tem um Pai, e que esse é o Deus Criador e Misericordioso. Em sua rotina cada vez mais estressante, o ser humano já não contempla o que está ao seu redor. Homens e mulheres lutando pelo pão de cada dia, muitas vezes não têm condição ou tempo de enxergar a beleza dos campos, de olhar para as estrelas ou se alegrar com o sol. As obras humanas da indústria e do capitalismo selvagem muitas vezes desfiguram a natureza, destruindo-lhe a beleza e a harmonia, e não têm “o cuidado pela casa comum”, conforme o Papa Francisco sempre alerta. Teorias científicas tentam explicar apenas racionalmente os mistérios da vida, minimizam a importância de Deus, de um Ser Transcendente ou simplesmente negam sua existência.
Pensemos em Deus Filho, que nos salvou. Quando a humanidade traiu o amor do Criador, não fomos esquecidos e abandonados. Se por um homem, Adão, foram fechadas as portas do Paraíso para nós, por um só homem, Jesus Cristo, nos foi dada a salvação (cf. Rm 5,12-21). O amor divino é tão imenso, que o próprio Deus se encarnou para estar mais perto de nós, para ser um como nós, menos no pecado. E foi além: o Filho de Deus entregou sua vida por nós na cruz, sendo glorificado pelo Pai com sua Ressurreição. E quis ficar conosco em nossos altares, no Sacramento da Divina Eucaristia, como a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, Corpus Christi, que celebramos hoje nos ensina. De fato, devemos afirmar com Paulo Apóstolo: “Assim, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus” (Rm 5,1-2).
O mundo anda esquecendo que a salvação e o verdadeiro sentido da vida já nos foram dados por Cristo. Quantas pessoas gastam a vida correndo atrás de coisas passageiras! Quantos corações preocupados em acumular dinheiro e bens materiais que não levarão para a eternidade! Quantas pessoas desesperadas, sofrendo com as pressões da sociedade! Esquecem-se de que nada precisamos temer, porque a nossa fé em Jesus nos traz a esperança de que necessitamos para vencer qualquer dificuldade.
Pensemos em Deus Espírito Santo, que nos santifica. Ele foi soprado por Cristo sobre os Apóstolos (cf. Jo 20,22) e sobre cada um de nós, que fomos batizados e crismados. É o Espírito da Verdade que nos conduz e ilumina, que nos move e ensina e que nos leva à plena verdade. Ele é o sopro que nos leva à missão, tornando nossa Igreja “uma Igreja em saída”, segundo uma frase que o Papa Francisco gosta de repetir. O Espírito Santo é o Paráclito, o Advogado, o Intercessor que nos revela os mistérios da fé e nos protege das ciladas inimigas.
O mundo anda esquecendo que não é o poder e nem o dinheiro que devem ser os donos absolutos de nossa vida. A caminhada da Igreja e da comunidade humana sobre a face da terra é dirigida pelo Espírito de Deus. Mas quantos são dóceis às inspirações do Espírito Santo? E quantos outros maus espíritos nos escravizam! Infelizmente ainda é grande o número de pessoas que simplesmente ignoram o poder renovador e consolador da ação do Espírito Divino em suas vidas.
Caríssimos leitores e leitoras: o mistério da Santíssima Trindade realmente é modelo de amor e comunhão para todos nós e para toda a Igreja. A exemplo de Deus Uno e Trino, a perfeita comunidade, somos chamados a participar da mesma vida divina e a nos amar uns aos outros com profundidade e autenticidade. Permaneçamos firmes e fiéis, testemunhando o amor de Deus que nos cria, salva e santifica!
E a todos abençoo, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!