Pe. Augusto Calanchi
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O apostolado social da Companhia de Jesus no Brasil, do tempo dos missionários italianos também foi significativo como ainda hoje os Jesuítas agem em lugares e situações junto a comunidades vulneráveis. Ao lado da formação de meninos de classes altas, visando que se tornassem lideranças políticas, sociais, culturais e religiosas que, no futuro tomassem decisões pelo ponto de vista cristão, o trabalho com jovens de baixa renda foi muito significativo.
Augusto Calanchi, quando chegou ao Brasil era ainda estudante. Nascido em Bononi, Itália, a 2 de fevereiro de 1875, aos 21 anos (1896) entrou para a Companhia de Jesus. Feitos seus estudos iniciais de letras, retórica e filosofia na Universidade Gregoriana, em 1901 chegou a Itu para dois anos de exercício do magistério no Colégio São Luís. Lecionava língua latina e geografia.
A chegada de um novo professor sempre era sinal de renovação junto aos alunos. Se de um lado perdiam o mestre que já conheciam, ganhavam um novo orientador, com energia e novidades da Europa. Este privilégio dos estudantes matriculados no São Luís, por atitude de Augusto Calanchi, acabou se estendendo também aos meninos de rua no Rio de Janeiro.

Pe. Augusto Calanchi

Em 1905 Calanchi foi transferido para o Colégio Santo Inácio que nascera havia dois anos na Capital Federal, porém em regime de externato, o que facilitava um pouco a movimentação dos professores, afinal não havia a obrigação de zelar pela alimentação, dormitório e outras situações da vida cotidiana. Lembremos que em Itu e Nova Friburgo os colégios eram internatos. Vocacionado ao trabalho com jovens, Calanchi fundou uma escola de catecismo para “meninos rudes” como chamavam àquele tempo os filhos de moradores de rua. O catecismo era a instrução religiosa unida a atividades culturais, incluindo a alfabetização e alimentação básica.
Já no início do século, o Rio de Janeiro apresentava problemas sociais graves com os quais vivemos até hoje. A ausência de programas de moradia, alfabetização e trabalho aos negros, após o fim da escravização de africanos, criou sérias situações de pobreza e miséria. Coube às Ordens religiosas e outras instituições amenizarem essa vergonhosa pobreza visto que o Estado não o fez. O centro urbano carioca estava cheio de famílias de baixa renda vivendo em condições sub-humanas. A ação de Augusto Calanchi se deu justamente durante o governo do prefeito Pereira Passos que sonhou transformar a região central do Rio em um bairro parisiense, com avenidas e belos edifícios e expulsou a população pobre da região, dando início às primeiras favelas do Brasil.
Após os estudos de Teologia, Calanchi foi ordenado padre e voltou a viver em Itu, diretor da Escola Apostólica Sagrada Família, para formação de jovens jesuítas. Em 1915, porém, retornou ao Rio de Janeiro e continuou seu apostolado social até seus últimos dias. Abriu espaço aos congregados marianos cariocas para também agirem no caminho da fraternidade e solidariedade.
Calanchi faleceu aos 59 anos em 29 de maio de 1927.

Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”