Tempo de padre Benigno
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A chegada de novo padre à Paróquia Nossa Senhora Candelária, depois de tantos anos sob a direção espiritual de sacerdotes ituanos, impactou a comunidade, mas o rigoroso padre Benigno de Brito Costa (1905 – 1997) atendeu diversas frentes religiosas e administrativas, inclusive neste jornal, escrevendo periodicamente em suas páginas.
Nascido em Pombal (BA), ele cursou Humanidades e Filosofia em Salvador. A Teologia estudou no Seminário do Ipiranga, em São Paulo, para cuja arquidiocese transferiu-se. Ordenado em 1929, depois de certa experiência paroquial, viveu em Roma, doutorando-se em 1938. Nenhum pároco anterior havia estudado na Universidade Gregoriana. Ao retornar, por oito anos lecionou no seminário em que fora aluno. Depois foi pároco em Araçatuba e São Paulo até ser nomeado para a nossa matriz, retirado de um recolhimento de três anos, para curar-se de estafa.
Diferente do que o povo imaginou – um padre-doutor, professor de seminário, intelectualizado e fechado – padre Benigno foi um dos mais operosos da história da paróquia, no atendimento espiritual, social e em obras: descupinizou a igreja, restaurou o forro artístico e o douramento dos altares. Adquiriu lustres para as laterais da igreja, trouxe missões, assobradou o salão paroquial com biblioteca, sala de costura, ambulatório médico e dentário gratuitos, criou uma escola paroquial e a escola catequética.
A conhecida Missa das Crianças, às 8h30, foi criação sua, com sermão acessível aos pequenos. As catequistas explicavam as partes do rito, (em latim), para torná-lo compreensível. Criou programas semanais nas rádios, com perguntas e respostas e catecismo. Nessa época também adaptou a liturgia, conforme as modificações de Pio XII, estabelecendo a missa vespertina às 19h. Padre Benigno criou o “Pão de Santo Antonio” e as “Costuras de Santa Rita”, mobilizando a comunidade no atendimento social. O jornal A Federação noticiou todos esses acontecimentos durante os seus sete anos de paroquiato. Também esta folha tomou aspecto mais moderno e dinâmico.
A 13 de maio de 1962, através de longa carta publicada neste jornal, o padre Benigno se despediu de Itu, renunciando à paróquia ao ser chamado a servir como teólogo no Concílio Ecumênico Vaticano II. Ele que implantara novidades para aumentar o atendimento pastoral muito contribuiria em um concílio pastoral. A sua operosidade foi registrada na Federação de 29 de abril de 1962.
Esteve por três anos em Roma. Diferente do que se poderia imaginar, ele não se alinhou às mudanças da Igreja, que considerou radicais. Foi um crítico do Novo Missal e das transformações pastorais. Aos sessenta anos, incardinou-se na Diocese de Diamantina e depois em Campos de Goitacazes. Nunca celebrou a missa nova e morreu distante da Igreja de Roma, talvez o primeiro sacerdote sedevacantista do Brasil.
Antes desse tempo, ele foi grande para A Federação, conseguiu recursos para ampliar o jornal que passou a ter receita e ganhou mais duas páginas. Construiu salas comerciais, no terreno do fundo das instalações do jornal, com o fim de alugar o espaço para renda.
Com mais de 80 anos ainda frequentava Itu.