23º Domingo do  Tempo Comum
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Diác. Valdeci Florentino
dos Santos
Par. Nossa Senhora Aparecida

“Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”

 

Evangelho (Mc 7,31-37)

Jesus, cumprindo a promessa de Deus, abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo. Ele nos diz, com esse gesto, que Deus não Se conforma quando vê o homem fechar-se no egoísmo e na autossuficiência, que só trazem sofrimento e infelicidade. Jesus propõe aos “surdos-mudos” que encontra, que abram o coração ao amor, partilha, à comunhão: esse é o caminho para o Homem novo, para o homem que vai em direção à Vida autêntica.
O evangelista Marcos faz a narração em pleno território de Decápole, habitado pelos pagãos. Coloca em primeiro plano da cena duas personagens: Jesus e o surdo-mudo, enquanto a multidão fica em segundo plano. O ator principal, Jesus, só pronuncia uma palavra: “Efatá!” (Abre-te) e faz três gestos: mete o dedo nos ouvidos do doente, toca-lhe a língua com a sua própria saliva e levanta os olhos para o céu. A segunda personagem deixa-se levar, pois põe-se a falar corretamente. Jesus vira-se para a multidão, pedindo-lhe para não dizer nada do que se tinha passado. A cena termina com um coro unânime: “Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos ouçam e que os mudos falem”. E nós, onde vamos nos situar? Nós somos este surdo-mudo doente, recusando por vezes escutar a Palavra de Deus e não ousando anunciá-la. Então, Jesus dirige-Se a nós, faz-nos sinal, pede-nos para nos abrirmos nós mesmos, como tinha pedido ao paralítico para se levantar. Cada Eucaristia é uma passagem de Cristo ressuscitado: deixemo-nos tocar por Ele para nos abrirmos…
“Efatá!” “Abre-te!” Esta palavra tão simples é na realidade muito perigosa. Como diz o dicionário, abrir é fazer com que o que está fechado não o fique mais. Óbvio, mas cheio de consequências! Os Judeus de Jerusalém tinham consciência de serem o Povo eleito por Deus, posto à parte pelos outros povos. Nem pensar misturar-se aos outros povos, aos pagãos, aos estrangeiros! E eis que Jesus faz o contrário. Sai das fronteiras de Israel, vai junto dos pagãos, fazendo mesmo milagres em seu favor. É o mundo ao contrário! Ele não teme mesmo ter contato físico com este surdo-mudo, impuro aos olhos dos Judeus fiéis. Antes de abrir os ouvidos do infeliz, é Jesus que Se abre aos estrangeiros, tornando-Se um impuro aos olhos dos Judeus. Evidentemente, é muito arriscado, ainda hoje, abrir a sua porta, mas primeiro o seu coração aos estrangeiros. Porque é preciso olhá-los ultrapassando os preconceitos, aceitando outras maneiras de pensar e de viver. Aquele que segue Jesus não pode esquivar-se à interrogação: E eu, onde estou quanto à minha abertura de coração? Jesus quer sempre vir até mim, tocar os meus ouvidos para que eu ouça melhor o grito dos meus irmãos em angústia, tocar os meus olhos para que procure encontrar o olhar de Deus sobre os outros.
Participando em cada Eucaristia, beber a água e o sangue que brotam para que o grito de Jesus seja eficaz também em nós: “Efatá!” “Abre-te!”

Amém!24