O Rito
Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano.
Vigário Paroquial – Paróquia Nossa Senhora da Candelária
Começamos hoje uma série de artigos formativos sobre a liturgia da nossa missa. Neste primeiro apresento uma breve reflexão sobre o que é Rito. Sem compreender o que isso significa, complica a compreensão da liturgia.
Definir este termo é algo muito abrangente; desta palavra conseguimos extrair vários sentidos. Creio que todos já ouviram falar alguma vez “ah! Este pertence ao ‘rito’ latino, ao ‘rito’ ortodoxo.”. Ou: “Isso já se tornou um ritual”, ou ainda: “fulano é cheio de ritos e manias”
A ideia principal deste artigo é apresentar um panorama geral desta palavra para entendermos o que ela carrega consigo e quais os elementos próprios de um “rito” para assim nas próximas semanas estudarmos as partes da missa.
É valido lembrar que todo rito é por si algo vivido, algo que é experimentado (religioso ou civil). Assim partiremos do pressuposto que sejamos nós, portadores de lembranças significativas dessas experiências (uma vez que existe diferença qualitativa entre teorizar e vivenciar rituais).
“Se formos buscar a origem no latim, encontraremos a palavra ritus com a acepção de ordem estabelecida, ordem prescrita. Podemos procurar uma associação com o grego, e lá a palavra prescrição aparece como artus, que por sua vez refere a ararisko, indicando a ação de harmonizar, adaptar, e também a artmos, elo, junção. Caminhando um pouco mais, iremos até a língua sânscrita. Nela encontramos “ar”, que indica a disposição organizada das partes no todo, que no indo-europeu védico é indicativa da ordem do cosmo, como também da ordem das relações entre os deuses e os seres humanos e aquelas dos seres humanos entre si. De raiz indo-européia está o “ri”, que aponta para ritmo, rima. Por sua vez, no iraniano, está a palavra “arta”, que em nossa língua liga-se à ideia de harmonia restauradora.” (Ritos – expressões e propriedades, profa Maria Angela Vilhena)
Logo, podemos destacar algumas das primeiras características que identifica um rito: a ordem prescrita, a ordem do cosmo, a ordem das relações entre Deus e seres humanos e dos seres humanos entre si, a harmonia e organização. Essa “ordem” resulta numa “ação ordenada”, onde o ser humano coloca em movimento todo o seu ser; e toda “ação” acontece no tempo e espaço.
Há ritos que são vividos de modo individual, coletivo, nas casas, nas ruas, em igrejas, em datas específicas e dependendo do rito, é comum que nem todos os envolvidos desempenhem as mesmas funções. Existem palavras que somente podem ser ditas por algumas pessoas e gestos que são realizados por determinados participantes e vetados a outros. Há aqueles que presidem os rituais e aqueles que participam, enfim, há uma ordem de “ações” internas aos ritos estabelecidas pelo grupo chamada rubricas.
Outra característica do rito é a presença insubstituível de elementos dotados de profundo conteúdo simbólico. Como por exemplo: luz/ escuridão, a música, o silêncio, a água, o fogo… Os símbolos referem-se e remetem a uma realidade maior e mais profunda do que aquela diretamente observável em sua materialidade ou forma. Sendo assim o rito, uma ação pedagógica na medida em que transmite e ensina formas sociais de comportamento, preservam e comunicam tradições, valores e crenças. Dizem-nos como construir uma família, como expressar emoções, como despedir e sepultar nossos mortos, o que fazer em casos de doenças, o que é esperado de um adolescente, e de um adulto, como homens e mulheres se relacionam, quem deve mandar e quem deve obedecer. Conhecendo o rito, se conhece o ser humano e sua cultura nativa.
Pode-se dizer que o rito tem por característica ser transcendente e instaurador devido à tensão estabelecida entre o passado, o presente e o futuro. Nele são recolhidas e atualizadas explicações, tradições conservadas, novidades propostas. Aqui o presente é interpretado e ganha sentido e o futuro é antecipado por meio de desejos que, ao serem expressos no contexto ritual, objetivam simbólica e historicamente suas concretizações.
Após esta breve reflexão, você consegue identificar os ritos que compõem seu dia?