No leprosário em São Paulo (1)
Compartilhe

Prezadíssimo ouvinte de todos os sábados! Legionárias do exército pacífico da caridade e do bem, as beneméritas Irmãs de São José, cujo centenário de chegada às plagas brasileiras, orgulhosamente comemoraremos no próximo ano, não poderiam limitar seu desvelo aos portadores de doenças benignas. Tendo já passado pelo batismo de fogo, quando da violenta epidemia de cólera que assolara a Savoia em seu país natal, Madre Teodora adquirira, naqueles meses lutuosos, novo vigor para enfrentar as misérias humanas, e dera com seu exemplo de abnegação, lições de coragem às suas companheiras, dispondo-as à luta quando o inimigo se apresentasse.
Encarregadas dea administração das Santas Casas de Itu e de São Paulo, e do cuidado com os doentes aí internados, cumprem à risca o mandamento do Senhor, vendo no próximo um ser criado à imagem e semelhança divina, e, portanto, merecedor da mesma caridade, do mesmo interesse que mereceria o próprio Cristo, se baixasse à terra. Não se seduzem ao ouro do mundo, nem às honrarias dos grandes da terra. O que as leva ao sacrifício das próprias comodidades, o que as arrasta ao exercício de missão tão grandiosa é o prêmio que lhes reserva Aquele que um dia prometeu cem por um e o reino dos céus aos que fizessem alguma coisa aos pequeninos, em seu nome.
Movidas por essa promessa mágica, e animadas pelos conselhos e orientação da superiora heroica, que renunciara à pátria de nascimento para construir aqui a terra de seus amores, dispõem-se as religiosas josefinas a uma nova e tremenda prova – cuidar dos leprosos.
Poucos espetáculos serão tão penosos e tão repugnantes à natureza como a visão de um leprosário. De todas as moléstias que afligem a humanidade, uma das mais terríveis é a lepra. Os doentes perdem, às vezes, os pés e as mãos, ficam com o rosto cheio de excrescências e caroços; aos poucos do nariz e das orelhas restam apenas as cavidades. Como se já não bastasse tanta desgraça, há ainda o odor fétido que exalam tais chagas, tornando repugnante a sua presença. Mais do que ninguém, necessita o infeliz portador da ingrata moléstia de carinho e demonstrações afetuosas. Isolados, marido separado da mulher, filhos arrebatados dos pais, desprezados por aqueles que juraram amizade eterna, sentem, mais do que o sofrimento do corpo, a segregação dos seres amados. Tornam-se uns revoltados, e ao mirar-se no espelho do que virão a ser dentro de um, dois, dez e mais anos, sentem o desespero minar-lhes a alma e corromper os corações.
É para esses, pois, que a caridade e a abnegação de uma legião de jovens tem que se pôr em campo.

29 de junho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu
da Música – Itu