Na Santa Casa de Itu (2)
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Muitos ituanos talvez ignorem como surgiu a Santa Casa de Misericórdia de nossa cidade. Abramos pois um parêntese, e historiemos sumariamente sua fundação. O capitão Caetano José Portella, ao morrer, deixou em testamento dois contos de réis para a construção de uma Santa Casa de Misericórdia em Itu. Não ignorava, no entanto, o testador, a morosidade com que se cumprem essas disposições, e para assegurar esse fim, dispõe que, se dentro de dois anos não se iniciar o edifício, o dinheiro deveria passar para a Santa Casa de Santos.
As semanas e os meses transcorrem sem que ninguém se decida a cumprir as cláusulas testamentárias do capitão Portella. Avizinha-se o prazo estipulado e corre Itu o risco de perder a soma legada. Dom Antonio Joaquim de Melo, Padre Elias do Monte Carmelo e o Sr. Joaquim Pacheco da Fonseca, ituanos de fibra e amor à terra natal, combinam abrir uma subscrição para completar a importância necessária à compra do terreno e à futura construção.
Recebida com satisfação a ideia dos três, juntam-se a eles Antonio Paes de Barros e Bento Paes de Barros, mais tarde Barões de Piracicaba e de Itu, que, em um gesto louvável, fazem questão de figurar entre os fundadores do hospital, subscrevendo quantia superior à já recolhida, comprometendo-se a dar todos os anos um donativo igual, até que terminassem as obras, tomando sob sua proteção o nosocômio de sua terra.
Encorajam-se os organizadores do movimento, decidem dar ao edifício proporções mais vastas. Organizam a Irmandade da Misericórdia, elegem como primeiro provedor o Capitão mor Bento Paes de Barros, e iniciam a casa em um grande terreno, com cinquenta e seis metros de frente. Escolhem para padroeiro do hospital o grande apóstolo da caridade São João de Deus, e erguem no centro do edifício uma linda capela em sua honra.
Terminados os pavilhões, surge o problema da entrega da direção da casa. Eis que, na ocasião, chegam providencialmente, da França, as primeiras Irmãs de São José. Alojam-se provisoriamente nas dependências da rua da Misericórdia à espera de suas instalações definitivas, sem pensar que, um dia, ali vicejaria mais um viveiro josefino, a testemunhar o desapego e a abnegação das beneméritas francesas, em tão boa hora para cá enviadas.
Com um encorajador “sim” responde Madre Teodora, à solicitação da Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa. E, aos 16 de junho de 1867, com grande solenidade, em meio a profusão de luzes, fogos e música, o Padre Miguel Corrêa Pacheco, canta a Missa solene, suplicando ao Médico Divino as bênçãos para o novo hospital.

01 de junho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu