Natal na roça!
Lázaro Piunti
Escritor/Advogado/Poeta
No pequeno vilarejo luz elétrica só existia na parte urbana, onde o calçamento era de pedra macaco (paralelepípedo). No campo, em áreas extensas e distantes, a claridade dos lampiões e as lamparinas a querosene alumiavam os casebres.
A pobreza era comum irmanando a todos os sitiantes. Porém, não havia fome. Os produtos dos sítios abasteciam a todos, satisfazendo as necessidades básicas de cada família. Uma vez ao mês o pároco viajava até a localidade mais povoada, para oficiar a santa missa. E no meio do ano, batizados eram festivamente celebrados. Os casamentos, marcados duas vezes ao ano, por orientação do vigário, ocorriam na matriz da vila; normalmente em maio e dezembro. Havia a 1ª comunhão, em novembro. E o Natal, se resumia à Missa do Galo, na noite vesperal do nascimento do Menino-Deus, na igreja central, ou seja, na matriz, contando cada vilarejo com o padroeiro de sua devoção. De resto, natal na área rural se resumia em unir familiares mais próximos e a comemoração ocorria precedida do terço em família.
Tudo muito simples, no entanto, com fartura e abundância, embora sem grande variação. Um cachaço era abatido de véspera, pelas hábeis mãos do pai da família; os frangos, esganados pela matriarca e depenados pelas crianças, preanunciavam as delícias do almoço natalino.
A “macarronada da mama”, (feito em casa). E frutas da época, doces caseiros, no gosto verdadeiro e puro do genuíno sabor. Doces de abóbora, doces de leite, arroz doce, bolo de fubá e canjica.
Para que mais? Que mais se desejaria? Para beber, cachaça, aos adultos. Às vezes um vinho barato.
A molecada se satisfazia com refresco de caju, suco natural de laranja baiana, ou sangria. E assim se celebrava o Natal nos confins das províncias brasileiras, até meados do século passado. O primo do meu irmão Arlindo, sujeito sério e honesto, nos conta ter vivenciado essa realidade. E, dela se recorda com saudade. “Éramos felizes e… Sabíamos” – arremata o bom homem.
Amém!