Perspectiva espiritual  sobre a nova ordem mundial
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por Olga Sodré

Vivendo neste mundo, nele atuamos material e espiritualmente. Por isso, precisamos entender a crise mundial e suas perspectivas. Fala-se em declínio do mundo ocidental, porém ele é relativo e contraditório. Observa-se retrocesso cultural e civilizatório, mas ciência e tecnologia avançam trazendo melhorias e novas dificuldades. Comunicação social, transações comerciais e atividades nas diversas áreas realizam-se no mundo virtual, aumentando o desemprego, concentração do poder econômico-financeiro e da renda, acirramento das lutas por meios legais ou não, dentro dos países e nas relações internacionais.
O cenário do século 21 é de um mundo globalizado, porém dividido em vários polos, com exacerbação dos conflitos e diluição das regras aceitas globalmente. Despontam novas instituições de intercâmbio e aglutinação entre países emergentes, em busca de mais espaço internacional, consolidação e autonomia. Está em formação um mundo multipolar, no qual o fortalecimento de novos polos – na Rússia, China, Ásia, América Latina e África – está rompendo a hegemonia da Europa e Estados Unidos.
A presente organização político-econômica internacional foi construída após a Segunda Guerra Mundial, na luta contra o nazismo, prosperidade e hegemonia norte-americanas. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi, então, criada com base em princípios ideais – constantemente desmentidos na vida real e atualmente cada vez mais ameaçados. Verifica-se um retorno do nazismo, crise da democracia e do sistema econômico-financeiro – até mesmo nos Estados Unidos e Europa.
Atravessada por inúmeras contradições mundiais, a ONU não está conseguindo realizar seus objetivos de garantir paz, segurança internacional e não proliferação de armas e guerras. A desintegração dos impérios coloniais britânico e francês tinha permitido a penetração das megaempresas americanas e expansão de sua influência política e militar. Contudo, a hegemonia dos Estados Unidos e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) vem sofrendo abalos.
Novos polos estão agora confrontando as organizações internacionais dominantes, numa luta titânica pela hegemonia mundial. O mundo está sendo sacudido por constantes conflitos econômicos e políticos, agressões, atentados e destruições da natureza. Multiplicam-se variadas guerras e lutas pela apropriação de territórios, riquezas e tecnologias – como a batalha entre EUA e China na produção dos semicondutores e chips, essenciais para os mais diversos aparelhos eletrônicos. Beiramos o colapso do sistema financeiro mundial e a ameaça nuclear.
Este modo de relacionamento humano e social destoa dos ensinamentos de Cristo. Ele nos alerta a respeito, propondo substituir as lutas por poder e prestígio predominantes no mundo pela colaboração, fraternidade, serviço e amor ao próximo. Sua proposta de paz é crucial. No ‘Sermão da Montanha’, Jesus chama ‘filhos de Deus’ os que realizam ações pela paz (Mt 5,9).
São chamados ‘filhos de Deus’, pois refletem o caráter de paz e unidade de Deus. Esta paz não corresponde aos acordos políticos ou concórdia entre amigos. Ela implica agir com amor e fraternidade, seguindo a vontade de Deus, na unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,3). Os que acolhem esta proposta podem praticá-la em suas atividades e relações. Seu fruto é uma experiência inicial de bem-aventurança, até mesmo nas turbulências, dores e sofrimentos.