Mais um momento difícil para a Igreja
por Altair Estrada
O ano de 2019 termina bastante delicado para a Igreja. Graças à perniciosa brecha aberta pela exortação apostólica Amoris Laetitia e seu capítulo oitavo eivado de ambiguidades, e aproveitando-se do clima favorável propiciado pelo Sínodo para a Amazônia, realizado em Roma de 6 a 27 de outubro, a Conferência Episcopal da Alemanha promoveu, de 23 a 26 de setembro, uma Assembleia Sinodal com o objetivo de discutir temas como a ordenação de homens casados, o acesso à comunhão de divorciados em nova união, a possibilidade de sacerdotes católicos abençoarem casais (sic) homossexuais, que leigos pregassem na missa e até mesmo a ordenação diaconal e sacerdotal para mulheres.
As iniciativas do episcopado alemão, que já protagonizou polêmicas nos últimos anos, como a intenção de ministrar-se a comunhão para protestantes, afrontando a verdade da Eucaristia, e o condicionamento do recebimento de sacramentos ao pagamento de impostos, encontram eco em importantes figurões como o Cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da conferência alemã, Dom Franz-Josef Bode, bispo de Osnabück e vice-presidente da conferência, Dom Franz-Josef Overbeck, bispo de Essen e presidente da Adveniat, que inclusive apoiou recentemente a “greve das mulheres”, convocada contra a negativa do Papa à ordenação de diaconisas.
O Vaticano manifestou-se imediatamente e, em carta enviada aos bispos alemães, alertou que os planos do sínodo alemão “não são eclesiologicamente válidos”, que “violam normas canônicas e, de fato, se propõem a alterar normas e doutrinas universais da Igreja” e que, à medida que versam sobre “autoridade, participação e separação de poderes”, “moralidade sexual” e mulheres nos ministérios da Igreja e serviços”, afetam não somente a Igreja da Alemanha, mas à Igreja universal, de modo a concluir que os alemães não estariam planejando um sínodo nacional, mas um conselho da Igreja em particular, algo que não podem conduzir sem a explícita aprovação de Roma, o que, se consumado, sinalizaria um novo e funesto cisma na Igreja. Até porque, mesmo que os mentores recuassem no projeto, já restou bem claro a forma como pensam e, no máximo, o caso estaria adormecido por pouco tempo.
Doutra banda, o Sínodo para a Amazônia, que teve um desastroso Instrumentum Laboris como preparação e um preocupante documento final, embora ainda pendente da derradeira manifestação do Papa Francisco, guardião da fé por mandato do próprio Cristo e a quem se confia o discernimento do mesmo, foi muito claro ao mostrar o que pensam e desejam os bispos, notadamente os latino-americanos, em questões eclesiais, morais e doutrinais.
Vindo mais especificamente para o Brasil, a situação não é nem um pouco diferente, com um episcopado e clero em grande parte simpático, quando não militante, por causas socialistas ou sociais nem um pouco ortodoxas, à medida que bem distantes da caridade ensinada por Nosso Senhor. Também embalada pelo acirramento de ânimos vivido pelo país na última disputa eleitoral, na qual o povo brasileiro, esmagadoramente conservador, readquiriu voz e possibilidade de retomar valores morais, políticos e sociais há décadas sufocados pela esquerda dominante nos meios educacionais, culturais e na mídia, a Igreja brasileira, ao invés de apoiar esse processo, salvo raras exceções, optou por se manifestar publicamente e até documentalmente contrária a ele, chegando a protagonizar presepadas como a do arcebispo de Aparecida no dia 12 de outubro, que, durante a santa missa da festa da padroeira do Brasil, ofendeu o povo que anseia por um país temente a Deus e onde os valores do Evangelho sejam os balizadores da sociedade.
Não há dúvida de que a situação da Igreja é delicada e mesmo preocupante. Mas também é verdade que o tempo de Deus e dela não é o nosso, e que a Esposa de Cristo já enfrentou momentos muito complicados em sua trajetória, superando desde feras famintas em circos romanos a monarcas sanguinários e inimigos em seu seio, permanecendo firme e fiel à sua missão. Que o Espírito Santo, a Quem confiada a Santa Igreja, ilumine seus pastores a se manterem unidos entre si e a Nosso Senhor, confiantes em Sua consoladora promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).