16º Domingo do Tempo Comum
Diác. Valdeci Florentino dos Santos
Paróquia Nossa Senhora Aparecida
“Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas.”
Evangelho (Lc 10,38-42)
O Evangelho, deste domingo apresenta um quadro de hospitalidade e de acolhimento de Deus. Mas sugere-se que, para o cristão, acolher Deus na sua casa não é tanto embarcar num ativismo desenfreado, mas sentar-se aos pés de Jesus, escutar as propostas que n’Ele o Pai nos faz e acolher a sua Palavra.
Estamos no contexto de um banquete. Não se diz se havia muitos ou poucos convidados; o que se diz é que uma das irmãs (Marta) andava atarefada “com muito serviço” enquanto a outra (Maria) “sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua Palavra” Marta, naturalmente, não se conformou com a situação e queixou-se a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus constitui o centro do relato e nós dá o sentido da catequese que, com este episódio, Lucas nos quer apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outro interesse.
No nosso tempo vive-se a uma velocidade estonteante… Para ganhar uns minutos, arriscamos a vida porque “tempo é dinheiro” e perder um segundo é ficar para trás ou deixar acumular trabalho que depois não conseguimos “digerir”. Mudamos de fila no trânsito da manhã vezes incontáveis para ganhar uns metros, passamos semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem olhamos, chegamos em casa exaustos, vencidos pelo cansaço e pelo stress, sem tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma história e dormimos algumas horas com a consciência de que amanhã tudo vai ser igual… Claro que estas são as exigências da vida moderna; mas, como é possível, neste ritmo, guardar tempo para as coisas essenciais? Como é possível encontrar espaço para nos sentarmos aos pés de Jesus e escutarmos o que Ele tem para nos propor? É preciso encontrar tempo para escutar Jesus, para acolher e “ruminar” a Palavra, para nos encontrarmos com Deus e conosco próprios, para perceber os desafios que Deus nos lança. Sem isso, facilmente perdemos o sentido das coisas e o sentido da missão que nos é proposta; sem isso, facilmente passamos a agir por nossa conta, passando ao lado do que Deus quer de nós.. do ser dos outros. Esta passagem do Evangelho serviu, muitas vezes, para distinguir a vida ativa, simbolizada por Marta, e a vida contemplativa, simbolizada por Maria. Jesus rebaixaria a primeira para ressaltar a segunda…, Mas esta distinção não estava, certamente, no espírito de Jesus! Como compreender a resposta de Jesus: “Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”?
Ao estilo de Abraão e Marta somos convidados a acolher e servir a Deus presente em nossos irmãos refugiados, cansados, machucados, doentes e maltratados. Porém, como Maria, não esqueçamos da oração que contempla e escuta a palavra de Jesus
Diante deste convite, como será o nosso acolhimento nesta semana, para aqueles que vamos encontrar e que são Cristo no nosso caminho? Deixarmo-nos absorver, como Marta, por tudo aquilo que vamos fazer para eles? Ou antes, ao jeito de Maria, procurar partilhar um tempo gratuito com eles, sentarmo-nos, parar um pouco para os escutar?