A Páscoa de Jesus 5 – A crucificação “Tenho sede!” (Jo 19,28)

No coração da narração da Paixão, no momento mais luminoso e, ao mesmo tempo, mais tenebroso da vida de Jesus, o Evangelho de João nos entrega duas palavras que encerram um mistério imenso: “Tenho sede” (19,28) e, logo depois: “Tudo está consumado” (19,30). Palavras últimas, mas carregadas de uma vida inteira, que revelam o sentido de toda a existência do Filho de Deus. Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não proclama, não condena, não se defende. Pede, humildemente, aquilo que, sozinho, não pode de modo algum dar a si mesmo.
A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo atormentado. É também, e sobretudo, expressão de um desejo profundo: o de amor, de relação, de comunhão. É o grito silencioso de um Deus que, tendo querido partilhar tudo da nossa condição humana, deixa-se atravessar também por essa sede. Um Deus que não se envergonha de mendigar um gole, porque nesse gesto nos ensina que o amor, para ser verdadeiro, também deve aprender a pedir e não apenas a dar.
“Tenho sede”, diz Jesus, e assim manifesta a sua humanidade e também a nossa. Nenhum de nós pode bastar a si mesmo. Ninguém pode salvar-se sozinho. A vida se realiza não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber. E, precisamente nesse momento, depois de ter recebido de mãos estranhas uma esponja embebida em vinagre, Jesus proclama: “Tudo está consumado”. O amor tornou-se necessitado e, justamente por isso, levou a cabo a sua obra.
Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal pela força, mas aceitando até o fim a fraqueza do amor. Na cruz, Jesus nos ensina que o ser humano não se realiza no poder, mas na abertura confiante ao outro, mesmo quando esse outro nos é hostil e inimigo. A salvação não está na autonomia, mas em reconhecer, com humildade, a própria necessidade e saber expressá-la livremente.
A realização da nossa humanidade no desígnio de Deus não é um ato de força, mas um gesto de confiança. Jesus não salva com um gesto clamoroso, mas pedindo algo que, sozinho, não poderia receber. E aqui se abre uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser suficiente para si mesmo, então também a nossa sede – de amor, de sentido, de justiça – não é sinal de fracasso, mas de verdade.
Essa verdade, aparentemente tão simples, é difícil de acolher. Vivemos em uma época que premia a autossuficiência, a eficiência e a produtividade. No entanto, o Evangelho nos mostra que a medida da nossa humanidade não é dada pelo que podemos conquistar, mas pela capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, também ajudar.
Jesus nos salva mostrando que pedir não é indigno, mas libertador. É o caminho para sair do esconderijo do pecado e retornar ao espaço da comunhão. Desde o início, o pecado gerou vergonha. Mas o perdão verdadeiro nasce quando podemos olhar de frente para a nossa necessidade e não temer ser rejeitados.
A sede de Jesus na cruz é, portanto, também a nossa. É o grito da humanidade ferida que ainda busca a água viva. E essa sede não nos afasta de Deus, mas nos une a Ele. Se tivermos a coragem de reconhecê-la, poderemos descobrir que também a nossa fragilidade é uma ponte para o céu. É justamente no pedir – não no possuir – que se abre um caminho de liberdade, porque deixamos de pretender ser suficientes a nós mesmos.
Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculo, esconde-se uma alegria que o mundo não conhece. Uma alegria que nos devolve à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor.
Queridos irmãos e irmãs, na sede de Cristo podemos reconhecer toda a nossa sede. E aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que saber dizer: “eu preciso”. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando nos parece que não o merecemos. Não nos envergonhemos de estender a mão. É precisamente aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação.