Um não tão “Admirável Mundo Novo”
Compartilhe

Caros irmãos, “Admirável Mundo Novo” é uma distopia escrita pelo autor britânico Aldous Huxley e publicada em 1932. A obra é ambientada em um futuro distópico e apresenta uma sociedade altamente controlada e manipulada, explorando questões complexas relacionadas à tecnologia, controle social e ética.

No livro é descrita uma sociedade em que a reprodução humana é rigidamente controlada e manipulada, destacam-se:
1. Produção em Massa de Seres Humanos: A sociedade de Huxley produz seres humanos em laboratórios, controlando sua criação desde o início, resultando em uma população homogênea;
2. Eliminação da Gravidez Natural: A gravidez natural é considerada obscena e é evitada a todo custo. As pessoas são incentivadas a usar contraceptivos;
3. Supressão de Laços Familiares: O conceito de família é erradicado, e os laços familiares são considerados prejudiciais à estabilidade social;
4. Uso de Drogas para Suprimir Emoções: O uso do “soma”, é promovido para suprimir emoções e desejos reprodutivos.

Um dos elementos-chave que merece destaque na obra é o conceito de “Bokanovsky”. Em “Admirável Mundo Novo,” o termo refere-se a um processo de reprodução artificial que permite a produção em massa de seres humanos em laboratórios, em vez de reprodução sexual tradicional. Esse processo envolve a manipulação genética e a clonagem para criar vários indivíduos idênticos a partir de um único óvulo fertilizado. O conceito representa a extrema engenharia genética e a intervenção no processo de reprodução humana. Simboliza o controle total do Estado sobre a criação e a conformidade dos cidadãos, resultando em uma sociedade altamente homogênea. Esse processo é usado para criar diferentes classes sociais, cada uma projetada para desempenhar funções específicas na sociedade. Isso leva à estratificação social e à falta de mobilidade social, uma vez que as características e as habilidades de cada classe são predestinadas.

Como resultado desse processo de reprodução artificial, as famílias não têm mais lugar na sociedade retratada na obra. Não existem pais ou filhos no sentido convencional. Em vez disso, as pessoas são criadas em lotes, e os laços familiares são desencorajados e vistos como desnecessários. Essa ausência de famílias contribui para a falta de vínculos emocionais profundos entre os indivíduos na sociedade “Admirável Mundo Novo”. Os relacionamentos são mais superficiais, e as pessoas são condicionadas desde o nascimento a valorizar o Estado e a estabilidade social acima de qualquer ligação familiar. Outra consequência são as implicações para a concepção de amor e relacionamentos na sociedade do livro, onde o conceito de monogamia é desafiado e substituído pela promiscuidade sexual. Seria tão bom, se isso tudo fosse de fato só ficção!!!!

Atualmente, enfrentamos desafios éticos semelhantes em relação à vida humana, de modo que em 2008 foi emitida pela Congregação para a Doutrina da Fé a Instrução Dignitas Personae (DP), a qual enfatiza a dignidade intrínseca da pessoa humana como um valor inviolável que deve ser respeitado em todas as fases da vida, desde a concepção até a morte natural. Isso reflete a visão da Igreja Católica de que a vida é um dom de Deus e deve ser protegida como tal.

Ecoam as preocupações levantadas pela “Dignitas Personae”:
– A prática do aborto é, em muitas sociedades, uma forma de descartar a vida humana em desenvolvimento, apesar da clareza da “DP” sobre a inviolabilidade da vida desde a concepção;
– A decisão de encerrar a vida de indivíduos em sofrimento, seja por meio da eutanásia ativa ou passiva, levanta questões sobre o descarte de pessoas;
– Avanços na engenharia genética levantam preocupações sobre a possibilidade de manipular características humanas e criar seres humanos sob medida, o que se assemelha ao controle de vida em “Admirável Mundo Novo”;
– A desvinculação do ato conjugal como ápice da união do casal e lugar comum para gerar a vida;
– Em sociedades onde a desigualdade persiste, algumas vidas podem ser percebidas como menos valiosas que outras.

A “DP” nos recorda a importância de reconhecer e proteger a dignidade inerente de cada ser humano. Devemos lembrar que a vida humana é um dom sagrado e inviolável, conforme delineado pelo próprio Deus: “O olhar da Igreja está, de fato, repleto de confiança, porque a vida vencerá: esta é para nós uma esperança segura. Sim, a vida vencerá, porque do lado da vida estão a verdade, o bem, a alegria e o verdadeiro progresso. Do lado da vida está Deus, que ama a vida e a doa em abundância” (DP, n.3).