Análise de conjuntura social: “Muitas guerras, muitas pestes e pouca democracia”

“Muitas guerras, muitas pestes e pouca democracia”, este foi o eixo da introdução à Análise de Conjuntura Social apresentado pelo bispo de Carolina (MA), dom Francisco de Lima Soares, coordenador do grupo de Análise de Conjuntura da CNBB, como provocação ao episcopado brasileiro na primeira sessão da 59ª Assembleia Geral da CNBB, na manhã desta segunda-feira, 25 de abril.
A análise de conjuntura apresentada aos bispos, cujo título foi “Os clamores do meu povo. A realidade brasileira de 2022”, se inspirou em dois documentos históricos da Igreja no Brasil: “Eu ouvi os clamores do meu povo a realidade do Nordeste em 1973” e “Y-Juca-Pirama, o índio: aquele que deve morrer, documento de urgência de bispos e missionários, do Centro-Oeste”.
A análise apontou o espectro da fome e da insegurança alimentar que “voltou a se agravar e a castigar a população brasileira”. O grupo de análise de conjuntura da CNBB apresentou dados da pesquisa realizada pelo Datafolha, que apontou que, em março de 2022, a quantidade de comida em casa era insuficiente para 24% dos brasileiros, ainda como reflexo da volta do país ao mapa da fome da ONU a partir de 2018, após ter saído em 2014.
Segundo a análise, a volta do espectro da fome é fruto de uma herança estrutural do Brasil, o segundo maior exportador de alimentos do mundo, só perdendo para os Estados Unidos, com produção capaz de alimentar 1,6 milhões de pessoas. “O problema não está na capacidade de produzir, mas também nos mecanismos de distribuição”, disse dom Francisco.
A conjuntura econômica e política de 2022
O grupo de análise de conjuntura apontou que a economia brasileira continuará apresentando crescimento pífio no ano de 2022, com as melhores expectativas prevendo aumento de apenas 0,5%, mantendo-se, assim, no patamar observado nos anos de 2012 e 2013. A taxa de desocupação, no primeiro trimestre de 2022, segundo o IBGE, ficou estabilizada em torno de 11%, o que representa mais de 12 milhões de pessoas.
A aparente melhora das taxas de ocupação e de subutilização da força de trabalho, 27,3 milhões de pessoas, observada a partir do auge da crise provocada pela Covid-19, em 2020, não foi acompanhada de melhoria do rendimento médio real dos ocupados, segundo o gráfico abaixo apresentado pelo grupo.