VAR lento
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por Pedro Dalan

O VAR brasileiro corre atrás do equilíbrio entre a decisão mais correta e o tempo perdido para aplicá-la. Em relação ao mesmo recorte do campeonato de 2019, houve aumento de 40% no número de paralisações pelo VAR (462 contra 345, anteriormente), com o tempo para a tomada de decisão abreviado em quase 24% (de 1min45s para 1min25s atuais, em média).
Ocorre que o VAR esteve mais presente nas decisões de campo em 2020. No Brasileirão, ao final do primeiro turno, ao longo dos 182 jogos disputados (está faltando oito partidas adiadas), 163 tiveram paralisação do jogo para uso do árbitro de vídeo, o que representa 89,5% do total. Prova de que os lances polêmicos acontecem em profusão e precisam ser checados para garantir uma decisão mais assertiva.
O tempo médio para checagem dos lances diminuiu 20 segundos de 2020 para 2019, mas essa marca tem a ver com o menor tempo perdido em jogadas que envolveram mudança de decisão final por meio do VAR. Em 2019, foram 2min39s gastos em média. Este ano, quando o juiz foi auxiliado e mudou de ideia, foram 2min16s por lance. O número de mudanças de decisão com assinatura do VAR está praticamente igual: 96 em 2019 e 92 em 2020. Uma alteração pelo VAR a cada duas partidas em média nos dois anos (alinhados por conta dos jogos faltantes na temporada atual).
Dos 31 árbitros de vídeo escalados pela CBF nos jogos do Campeonato Brasileiro, Igor Junio Benevenuto e José Cláudio Rocha Filho foram os que mais vezes utilizaram o VAR, 14 cada um. Benevenuto não aparece entre os dez videoárbitros que mais chamam o árbitro de campo para analisar o lance na telinha do VAR. Enquanto que José Cláudio, parou o jogo em 40 oportunidades, a oitava maior média de paralisação (2,9).
Quem lidera a ingrata lista é Caio Max Augusto Vieira. O árbitro potiguar ficou na cabine do VAR em sete partidas, e interrompeu o jogo para usar a tecnologia em 27 oportunidades (média de 3,9). Pablo Ramon Gonçalves Pinheiro, também do Rio Grande do Norte, e o paranaense Rafael Traci, vêm logo atrás com a segunda maior média de interrupções (3,6). Aliás, Traci teve o nome envolvido em polêmica na partida entre São Paulo e Atlético-MG, pela sétima rodada do Brasileirão. Lembro que ele anulou o gol de Luciano de forma equivocada por erro na utilização do VAR.
Em números absolutos e por média, Wagner do Nascimento Magalhães é o árbitro que mais paralisa o jogo para escutar o VAR. O árbitro carioca foi escalado em sete jogos e interrompeu o andamento de uma partida 34 vezes (média de 4,9).
Eu entendo que por ser o segundo ano de utilização do VAR, era para ser o contrário, deveria diminuir o número de interrupções. O problema é a falta de treinamento prático. Os árbitros só utilizam a ferramenta do VAR nos jogos, no ambiente de pressão. Vale ressaltar outros dois pontos: primeiro, o desempenho em campo precisa melhorar, os árbitros não tomam decisões e transferem a responsabilidade para o VAR, que muitas vezes são usados como “muletas”.
Segundo, há preciosismo do VAR em checagens e revisões de lances que não são erros claros e óbvios, contrariando a filosofia de mínima interferência e máximo benefício. Esses procedimentos impactam o andamento do jogo, e o tempo perdido nem sempre é recuperado nos acréscimos.
Em relação aos árbitros que mais param o jogo para escutar o VAR, o Wagner Magalhães, pela “vasta” experiência, deveria assumir mais o controle do jogo, como ele faz em partidas sem o VAR.
Lance de Athlético-PR e Goiás ficou sete minutos e 25 segundos parado para revisão de possível cartão vermelho por agressão de Daniel Bessa em Fernando Canesin, o árbitro aplicou cartão amarelo após olhar lance no VAR. Em Santos e Flamengo foram cinco minutos e três segundos de paralisação, para revisão de possível impedimento em gol de Jobson, que estava de fato impedido, e VAR ajudou a anular o gol.
Em suma, o VAR, por estar sendo utilizado de forma errônea, está deixando o futebol mais robotizado, sem emoção e sem perspectiva de melhora….

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