João dos Santos Bispo
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Difícil dissociar a imagem do Instituto de Educação Regente Feijó de seu diretor, o Prof. João dos Santos Bispo. Se vivo completaria centenário de nascimento em 5 de agosto. Escolas são frutos de dedicação e talento de quem as dirige. Ao longo de vinte e quatro anos esteve à frente da principal unidade de ensino da região e a colocou em nível de excelência, dando o melhor de sua notável formação a serviço da educação.
A escola que o recebeu como diretor, em 1953, era muito diferente do ginásio em que o menino João foi matriculado em 1932. O prédio velho, sobrado de taipa, tivera salas adaptadas à vida escolar que começava em Itu. Já o novo Regente possuía dependências extraordinárias ao projeto que o diretor veio ampliar, para servir aos cursos que se estendiam até o Normal. A admissão de novos educadores elevou o nível da escola em todas as áreas. Para a música havia espaço diferenciado, anfiteatro para aulas e auditório – com piano – para festas. O diretor fora aluno do maestro Nhonhô Tristão e guardou gosto apurado para apreciação musical. Tinha verdadeira paixão pelo violoncelo.
A biblioteca era recheada de enciclopédias e obras de referência, maioria adquirida pelo bibliófilo-diretor; proporcionava ampla oportunidade de leitura e estudos. Amigo de intelectuais, inclusive autores, João Bispo manteve até seus últimos dias o gosto pelos livros, fazendo do conselho de Goethe um exercício cotidiano: “Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas belas palavras”.
Teve o dissabor de assistir à metamorfose de sua escola na trágica reforma que o governo paulista implantou no Regente, parte do sucateamento e decadência da educação do tempo da ditadura.
A escola se reinventou e ganhou vida nova e o prof. Bispo se aposentou; continuou vivendo a tranquilidade dos diletantes da arte, não se afastando dos amigos com quem compartilhava o conhecimento dos tempos da faculdade São Bento; não se esquecia de sua vida de jovem mestre em Casa Branca; lembrava-se com carinho do Externato das Irmãs de São José e do Cesário Motta, onde cursou as primeiras letras.
Permaneceu, entre nós, como sustentáculo de erudição; fazia discursos de improviso, em datas cívicas, usando belas palavras que ouvira de notáveis. Foi um homem da geração dos idealistas que acreditavam estar plantando um grande futuro para o país ao olhar para o passado.
Colaborou com pesquisadores sobre a educação e as artes. Pertenceu à Academia Ituana de Letras como membro honorário. Aos acadêmicos foi um colaborador e entusiasta.
Viveu bem ao lado dos seus, décadas sem telefone em casa, porque incomodava o convívio familiar: um sábio!
Faleceu a 29 de julho de 2013, poucos dias antes de completar 93 anos. Ficou vazia a janela de seu casarão.
Nestes tempos de pavorosa ignorância e estupidez, a memória de um dedicado professor serve de inspiração e esperança em um futuro em que a educação seja realmente transformadora.

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