Liturgia das Horas.
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por Daniel Bevilacqua Santos Romano

Para enriquecer nosso conhecimento sobre os salmos, segue um texto retirado da introdução do livro de oração: Liturgia das Horas.

CAPÍTULO III
OS DIVERSOS
ELEMENTOS DA
LITURGIA DAS HORAS
I. OS SALMOS E SUA FUNÇÃO NA ORAÇÃO CRISTÃ

  1. Na liturgia das Horas, a Igreja, para rezar, se serve em grande parte daqueles esplêndidos poemas que os autores sagrados do Antigo Testamento compuseram sob inspiração do Espírito Santo. Em razão desta sua origem, os salmos têm a virtude de elevar até Deus a mente das pessoas, despertar nelas piedosos e santos afetos, ajuda-las maravilhosamente a agradecer na prosperidade e dar-lhes, na adversidade, consolo e fortaleza de ânimo.
  2. Contudo, os salmos não encerram mais que uma sombra daquela plenitude dos tempos que se revelou em Cristo, Nosso Senhor e da qual se alimenta a oração da Igreja. Por isso, embora todos os fiéis cristãos estejam de acordo em ter elevada estima aos salmos, não é de estranhar que surja, por vezes, alguma dificuldade, quando alguém na oração procura fazer seus aqueles poemas venerandos.
  3. O Espírito Santo, sob cuja inspiração os salmistas cantaram, assiste sempre com sua graça aqueles que de boa vontade, salmodiando com fé, proferem esses poemas. Mas, por outro lado, é necessário que “adquiram formação bíblica, a mais rica possível, sobretudo quanto aos salmos” (SC n.90), cada qual segundo suas possibilidades, e assim compreendam de que modo e com que método poderá orar corretamente quem se serve dos salmos.
  4. Não são leituras nem orações compostas em prosa; os salmos são poemas de louvor. Por conseguinte, embora às vezes tenham sido proclamados em forma de leitura, contudo, atendendo ao seu gênero literário, chamam-se com razão, em hebraico, tehillim, ou seja, “cânticos de louvor”, e em grego psalmói, isto é, “cântico para entoar ao som do saltério”. De fato, todos os salmos têm caráter musical que determina a maneira conveniente de dizê-los. Por isso, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou individualmente e em silêncio, a pessoa se deixa levar por seu caráter musical. Ainda que oferecendo um texto à nossa mente, tendem mais a mover os corações de quem salmodia e escuta, e mesmo dos que os acompanham ao som dos “saltérios e da cítara”.
  5. Portanto, quem salmodia sabiamente, irá percorrendo versículo por versículo, meditando um após outro, sempre disposto em seu coração a responder como exige o Espírito que inspirou o salmista e assistirá igualmente as pessoas devotas, dispostas a receber a sua graça. Por isso, ainda que exigindo a reverência devida à majestade de Deus, a salmodia deve desenvolver-se com júbilo espiritual e com doçura de caridade, tal como corresponde à poesia sagrada e ao canto divino, e, mais ainda, à liberdade dos filhos de Deus.
  6. Com as palavras do salmo podemos muitas vezes orar com mais facilidade e fervor, seja dando graças e louvando a Deus com alegria, seja suplicando-o desde as profundezas de nossas angústias. Mas pode também, por vezes, surgir alguma dificuldade sobretudo quando o salmo não se dirige diretamente a Deus. O salmista é poeta e com frequência se dirige ao povo, relembrando a história de Israel. Às vezes, interpela outros seres, até mesmo criaturas irracionais. Faz, inclusive, o próprio Deus falar, e até os seres humanos, ou ainda, como no salmo 2, até mesmo os inimigos. Por isso, torna-se evidente que o salmo não é uma oração do mesmo estilo que as preces ou uma oração, compostas pela Igreja. Além disso, com sua índole poética e musical, enquadra-se no fato de que não fala necessariamente a Deus, mas canta simplesmente diante de Deus, como lembra São Bento: “Consideremos de que modo convém estar na presença de Deus e de seus anjos, e, ao salmodiarmos, que nos mantenhamos em tal atitude que nossa mente concorde com nossa voz.
    Continua…

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