Museu FAMA revela segredos  centenários de uma das construções  industriais mais importantes de SP
Compartilhe

O Restauro estrutural e dos telhados da antiga Fábrica São Pedro, hoje sede do Museu FAMA, têm revelado detalhes surpreendentes sobre a construção centenária que ajudou a moldar a industrialização de Itu. A obra mobiliza equipes técnicas especializadas e combina engenharia, arqueologia industrial e técnicas refinadas de conservação patrimonial para recuperar uma das edificações mais emblemáticas da cidade.
Reconhecida desde 2003 pelo CONDEPHAAT como Patrimônio Arquitetônico Industrial do início do século 20, a antiga fábrica, atualmente, conta com três frentes de trabalho simultaneamente: a elaboração do laudo estrutural, os testes e análises das madeiras e o planejamento detalhado da troca e restauração das telhas.
Uma das descobertas mais impressionantes da equipe foi a identificação das madeiras utilizadas na construção original da fábrica. Os pilares são feitos de cedro, copaíba e castanheira, espécies classificadas como madeiras duras e tradicionalmente utilizadas apenas em obras de altíssima qualidade.
Segundo o arquiteto e restaurador, Vinicius Martins de Oliveira, os pilares possuem mais de 100 anos de existência e muitos aparentavam escurecimento pela umidade. “No entanto, ao remover apenas cinco milímetros da superfície, a equipe constatou que a madeira permanece amarelada, firme e estruturalmente íntegra”, afirmou.
O resultado impressionou os especialistas, pois nenhum dos 120 pilares existentes na área em restauro precisará ser substituído. “Todos serão recuperados, reforçados e, quando necessário, realocados”, completou a também arquiteta e restauradora Jéssica Aparecida de Paula. Para ela, essa constatação demonstra o cuidado e o investimento que os construtores originais fizeram na fábrica, utilizando materiais extremamente nobres para um edifício industrial.
Um laboratório de restauro dentro da fábrica
Para garantir precisão histórica e segurança, a equipe montou um laboratório de análises dentro do canteiro de obras. As madeiras são coletadas, identificadas, catalogadas, pesadas e colocadas em dessecadores para medir níveis de umidade.
“Amostras também são submetidas à microscopia com resina epóxi, o que permite identificar características das fibras e orientar a metodologia de restauro. O processo científico se repete tanto em pilares quanto no forro, garantindo que cada peça tenha o tratamento adequado”, afirma Vinicius.
Telhas Marseille
O telhado da Fábrica São Pedro é um capítulo à parte. Com mais de 4.500 m², combina três tipos de cobertura: telhas cerâmicas modelo Marseille, telhas de fibrocimento e placas de amianto.
Segundo Vinicius, as telhas Marseille seguem um modelo padronizado francês. Embora o Brasil importasse telhas no fim do século XIX, a prática se tornou cara, levando à criação de fábricas nacionais licenciadas. Assim, é pouco provável que todas as telhas da Fábrica São Pedro tenham sido importadas, embora algumas peças possam ter vindo da Europa.
O processo de restauro reforça que telhas cerâmicas raramente “estragam”; o que se deteriora é o verniz protetivo. A obra, portanto, “refaz a pintura” das telhas, preservando seu barro original. Jéssica afirma que cerca de 85% das telhas originais serão aproveitadas.
O projeto de restauro reúne arquitetos especialistas em patrimônio, restauradores, engenheiros, mestre de obras, pedreiros especializados, equipe de gestão de obra e técnicos de segurança. As equipes se revezam conforme a necessidade, mas o mestre de obra e os coordenadores estão no local diariamente, garantindo que cada fase respeite tanto as normas técnicas quanto às especificidades de um edifício centenário.
A obra é uma ação da Associação Museu São Pedro – Museu FAMA, instituição responsável pela gestão e preservação do espaço. O projeto foi contemplado pelo Edital Fomento Cult SP PNAB nº12/2024 Execução de Intervenções em Imóveis Protegidos (manutenção, conservação e restauro) realizado mediante recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) por meio do Ministério da Cultura (MinC), operacionalizado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, do Governo do Estado de São Paulo”.