Catequese por ocasião do 60º aniversário da Declaração conciliar “Nostra aetate”
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No centro da reflexão de hoje, nesta Audiência Geral dedicada ao diálogo inter-religioso, desejo colocar as palavras do Senhor Jesus à samaritana: “Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” (Jo 4, 24). No Evangelho, esse encontro revela a essência do autêntico diálogo religioso: um intercâmbio que se estabelece quando as pessoas se abrem umas às outras com sinceridade, escuta atenta e enriquecimento mútuo. É um diálogo que nasce da sede: a sede de Deus pelo coração humano e a sede humana de Deus. No poço de Sicar, Jesus supera as barreiras de cultura, gênero e religião. Convida a samaritana a uma nova compreensão do culto, que não se limita a um lugar em particular — “nem nesta montanha, nem em Jerusalém” —, mas que se realiza em espírito e em verdade. Este momento capta o núcleo do diálogo inter-religioso: a descoberta da presença de Deus além de todas as fronteiras, e o convite a buscá-lo juntos, com reverência e humildade.
Há sessenta anos, em 28 de outubro de 1965, o Concílio Vaticano II, com a promulgação da Declaração Nostra aetate, abriu um novo horizonte de encontro, respeito e hospitalidade espiritual. Esse documento luminoso ensina-nos a encontrar os seguidores de outras religiões não como estranhos, mas como companheiros de viagem no caminho da verdade; a honrar as diferenças, afirmando nossa humanidade comum; e a discernir, em toda busca religiosa sincera, um reflexo do único Mistério divino que abraça toda a criação.
Em particular, não devemos esquecer que a primeira orientação da Nostra aetate foi dirigida ao mundo judaico, com o qual São João XXIII desejava restabelecer a relação original. Assim, pela primeira vez na história da Igreja, deveria tomar forma um tratado doutrinal sobre as raízes judaicas do cristianismo que, nos planos bíblico e teológico, representasse um ponto de não retorno. “O povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios de sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas” (NA, 4). Assim, a Igreja, “lembrando-se de seu patrimônio comum com os judeus e movida não por razões políticas, mas pela caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isso ocorreu e seja quem for a pessoa que o promoveu contra os judeus” (ibid.). Desde então, todos os meus predecessores condenaram o antissemitismo com palavras claras. Também eu confirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e o combate, em nome do próprio Evangelho.
Hoje podemos olhar com gratidão para tudo o que foi realizado no diálogo judaico-católico nestas seis décadas. Isso não se deve apenas ao esforço humano, mas também à assistência do nosso Deus, que, segundo a convicção cristã, é em si mesmo diálogo. Não podemos negar que, nesse período, também houve desentendimentos, dificuldades e conflitos que, no entanto, nunca impediram a continuidade do diálogo. Também hoje não devemos permitir que circunstâncias políticas ou injustiças de alguns nos desviem da amizade, sobretudo porque até agora conseguimos realizar muito.
O espírito da Nostra aetate continua a iluminar o caminho da Igreja. Ela reconhece que todas as religiões podem refletir “um raio da verdade que ilumina todos os homens” (n. 2) e buscam respostas para os grandes mistérios da existência humana, de modo que o diálogo deve ser não apenas intelectual, mas profundamente espiritual. A Declaração convida todos os católicos — bispos, clérigos, pessoas consagradas e fiéis leigos — a participar sinceramente do diálogo e da colaboração com os seguidores de outras religiões, reconhecendo e promovendo tudo o que é bom, verdadeiro e santo em suas tradições (cf. ibid.). Hoje isso é necessário em praticamente todas as cidades do mundo, onde, devido à mobilidade humana, nossas diversidades espirituais e de pertencimento são chamadas a se encontrar e a conviver fraternalmente. A Nostra aetate recorda-nos que o verdadeiro diálogo tem suas raízes no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação, ao mesmo tempo em que rejeita com firmeza todas as formas de discriminação ou perseguição, afirmando a igual dignidade de todos os seres humanos (cf. NA, 5).
Portanto, caros irmãos e irmãs, sessenta anos após a Nostra aetate, podemos nos perguntar: o que podemos fazer juntos? A resposta é simples: agir juntos. Mais do que nunca, o nosso mundo precisa de nossa unidade, amizade e colaboração. Cada uma de nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o planeta Terra. Nossas respectivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o serviço à humanidade em todos os momentos. Juntos, devemos vigiar contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, bem como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo. Devemos também abordar o desenvolvimento responsável da inteligência artificial, pois, se for concebida como alternativa ao ser humano, poderá violar gravemente sua dignidade infinita e neutralizar suas responsabilidades fundamentais. Nossas tradições têm uma imensa contribuição a oferecer para a humanização da técnica e, consequentemente, para inspirar sua regulamentação, em defesa dos direitos humanos fundamentais.
Há sessenta anos, a Nostra aetate trouxe esperança ao mundo depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje somos chamados a renovar essa esperança em um mundo devastado pela guerra e em um ambiente natural degradado. Colaboremos, pois, se estivermos unidos, tudo é possível. Façamos com que nada nos divida. E agora, detenhamo-nos um momento em oração silenciosa: a oração tem o poder de transformar nossas atitudes, pensamentos, palavras e ações.