A “Hora Mariana” do Padre Godding

2025 marca os 120 anos de nascimento do Padre Robert William Godding, jesuíta britânico que viveu duas décadas em Itu e foi influente em diversas frentes: artística, religiosa, na educação, no interesse social e na política. Se apoiou o golpe de estado em 1964, que impôs regime ditatorial ao país, porque considerava (erroneamente) que o presidente John Kennedy foi assassinado por agentes do governo soviético, de outra parte lutou ao lado do operariado da Fábrica São Pedro quando o proprietário passou três meses sem pagar salários, alegando dificuldades e oferecendo tecidos aos trabalhadores, para que vendessem e tirassem o sustento. No sermão no Bom Jesus e com cartazes, fez campanha contra o patrão desonesto, mas sem resultado. Foi à fábrica, invadiu o escritório e, com discurso forte, exigiu pagamento imediato dos salários atrasados e foi atendido. Controverso, parecia sindicalista!
Para compreender um tanto da sua presença em Itu, o Museu da Música e a Biblioteca Histórica Padre Luiz D’Elboux abriram exposição que ficará no Memorial do Apostolado da Oração, no Bom Jesus, até fevereiro de 2026.
Robert William Godding nasceu em Londres, em 1905 e morreu em Itu, em 1978. Entrou para a Companhia de Jesus aos 14 anos, viveu em diversas cidades do Brasil, Argentina e Uruguai, parte do tempo estudante e outra parte missionário em comunidades rurais muito pobres, em Montevidéu e Anchieta (ES). Viveu também no Colégio São Luís (Avenida Paulista), lecionando para meninos privilegiados.
Veio pela segunda vez a Itu em 1959, e liderou diversas frentes, grupos numerosos de moças e rapazes, influenciando a cultura religiosa e oferecendo formação artística; lecionou por dez anos no “Regente Feijó”.
Era atuante com crianças, incentivando os esportes e exibindo filmes no cineminha gratuito para fazer frente ao que rejeitava- dos cinemas locais. Aos adultos, escrevia semanalmente n’A Federação a ‘Reflexão de Domingo”. Trabalhou até mais de 70 anos para cumprir seus ardores missionários.
Em 1948 passou um ano em Itu, quando criou a “Hora Mariana”, na Rádio Convenção, primeiro programa católico em radiodifusão local. Exibido aos domingos, às 12h., era de meia-hora somente. Além de leituras religiosas, breve reflexão e noticiário, incluía programação musical extraída de discos do consulado inglês, que recebia a fim de produzir programas com repertório de qualidade. Godding era organista, regente de coro e orquestra e compositor. Esta foi outra atuação significativa, no Coro do Bom Jesus, por anos, e no Vozes de Itu, por meses.
A “Hora Mariana” era um programa bem estruturado, de grande audiência, que chegava a centenas de casas naquele tempo que quase ninguém assistia televisão. Era um meio de difusão da cultura que ele desenvolveu, inicialmente com os congregados marianos, e colocou dezenas de jovens na liderança católica, gente que aprendeu muito e acabou permanecendo à frente das comunidades.
O que seria um missionário como Godding, neste nosso tempo de tantos recursos tecnológicos?
Lembro-me das suas pregações às crianças, no Mês de Maria, leve sotaque britânico, voz bonita, presença marcante cuja mensagem fez toda a diferença.