Leituras iniciais do 33º Domingo do Tempo Comum
Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj
1ª Leitura (Daniel 12,1-3)
O livro de Daniel pertence ao conjunto de livros conhecidos como “apocalípticos”. O que é um apocalipse? Para muitos esta palavra significa somente “uma grande confusão, uma coisa que não se entende”, ou então, “o fim do mundo”. Mas não é nada disso tudo.
Apocalíptico é um escrito no qual os ensinamentos são transmitidos através de imagens misteriosas. Esta linguagem nos parece surpreendente, mas era muito comum no tempo de Jesus e nos próprios Evangelhos aparece com bastante freqüência.
A primeira leitura e o Evangelho de hoje usam a linguagem apocalíptica. Quem interpretar literalmente essas imagens engana-se pensando que dizem respeito ao fim do mundo, à prestação de contas diante de Deus, juiz severo.
Os livros apocalípticos surgiram em épocas históricas difíceis quando o povo inteiro, abatido e oprimido, se pergunta: quando acabará o nosso sofrimento?
O livro de Daniel foi composto num desses períodos trágicos. Israel está sendo oprimido por Antíoco IV, um rei perverso e ímpio que quer acabar com a religião, profana o templo de Jerusalém, persegue os crentes e condena à morte os que não se submetem às suas reformas.
O povo se questiona: quando surgir o mundo novo, o que acontecerá com aqueles que, por não renegarem a própria fé, foram condenados à morte? Responde o profeta com a primeira profissão de fé na ressurreição que se encontra na Bíblia (vers.2-3).
As palavras de esperança contidas nesta leitura não foram pronunciadas só para os judeus que viveram no tempo do rei Antíoco. A leitura nos ensina que nenhum sacrifício será em vão, nenhuma lágrima, nenhuma dor, nenhum sofrimento se perderá. Nós também participaremos da felicidade do Reino de Deus, porque nem tudo acaba com esta existência.
2ª Leitura (Hebreus 10,11-14.18)
Desde os tempos mais remotos, os homens sempre experimentaram uma profunda perturbação interior, uma grande inquietação por causa das próprias faltas, da transgressão das normas morais e se convenceram de que as violações dos mandamentos são a origem das doenças, das desgraças, das calamidades e da morte.
Para libertar-se dessas culpas, eles inventaram uma infinidade de ritos: banhos em rios sagrados, aspersões com água, com o sangue de animais ou com outras essências.
Alcançaram eles o seu objetivo? A leitura de hoje responde: Não! A purificação não podia ser atingida porque o sangue dos animais não pode purificar o coração do homem (vers.11).
Só o sacrifício de Cristo tem o poder de comunicar essa purificação. Oferecido uma vez para sempre, ele libertou, de fato, os homens dos seus pecados (vers.12).
Quem tem a convicção de que o mal já foi derrotado pela morte e ressurreição de Cristo não fica angustiado, embora seja obrigado a admitir que no mundo, continuam existindo tantas misérias, tantas maldades, tantos pecados. É preciso esperar, portanto, que a vitória de Cristo se manifeste em plenitude. Quem se deixa dominar pelo pavor diante do inimigo já vencido ainda mostra uma fé bastante frágil (vers.14-18).