Leituras iniciais da Festa da Ascensão do Senhor
1ª Leitura (At 1,1-11)
Na parte final do seu Evangelho, Lucas afirma que o Ressuscitado levou seus discípulos para Betânia e “enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado aos céus” (Lc 24,50-53), ao passo que os Atos situam a Ascensão 40 dias depois (At, 1-3). O que surpreende é que o mesmo autor forneça duas versões que se contradizem.
A lista de dúvidas poderia continuar e seria bastante ampla, mas essas já bastam para nos colocar de sobreaviso: talvez a intenção de Lucas não seja a de nos fornecer informações sobre o lugar, a forma e o tempo da Ascensão de Jesus ao céu. Ele quer tirar dúvidas que surgiram nas suas comunidades, quer esclarecer os cristãos do seu tempo sobre o mistério inefável da Páscoa. Por essa razão, artista da palavra que é, compõe uma página de teologia servindo-se de um gênero literário e de símbolos muito compreensíveis por parte dos seus conterrâneos. O primeiro passo a ser dado, portanto, é o de entender a linguagem usada nessa narrativa.
Na época de Jesus, a expectativa do Reino de Deus está muito viva e os escritores apocalípticos a anunciam como iminente. São esperados: um dilúvio de fogo purificador vindo do céu, a ressurreição dos justos e o surgir de um novo mundo. Na mente de alguns discípulos cria-se um clima de exaltação, alimentado por algumas expressões usadas por Jesus, que podem facilmente ser mal interpretadas: “Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que volte o Filho do Homem” (Mt 10,23). “Em verdade vos declaro que muitos destes que aqui estão, não verão a morte sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade do seu reino” (Mt, 16-28).
Com a morte do Mestre, porém, todas as esperanças caem por terra: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de restaurar Israel” – dirão os dois discípulos de Emaús (Lc 24,21).
A narrativa de Lucas é uma página de teologia, não uma informação de fatos extraída de um jornal. Nesta página nos é ensinado que Cristo, por primeiro, atravessou “o véu do templo” que separava o mundo dos homens do mundo de Deus e mostrou que tudo o que acontece aqui na terra: sucessos ou fracassos, injustiças, sofrimentos e até mesmo os fatos mais absurdos, como uma morte ignominiosa, não estão excluídas do projeto de Deus.
2ª Leitura (Ef 1,17-23)
Paulo pede a Deus a sabedoria para os seus cristãos. Não se trata de uma sabedoria humana, mas da inteligência para compreender o mistério da Igreja. Pede a Deus para iluminar os olhos do seu coração para que compreendam quão grande é a esperança para a qual foram chamados.
A primeira leitura convidava os cristãos a não descuidar das obrigações concretas deste mundo. A segunda leitura completa esse pensamento e exorta os cristãos a não esquecerem que a vida deles está limitada aos horizontes deste mundo.
Embora envolvidos nas atividades desta vida, eles se sentirão sempre estrangeiros à espera que Cristo volte para tomá-los definitivamente consigo.