Leituras iniciais do Domingo de Pentecostes
Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj
1ª Leitura (At 2,1-11)
Aos seus discípulos, Jesus prometeu que não os deixaria sós e que enviaria o Espírito. Hoje celebramos a festa desse dom do Ressuscitado.
Vamos logo ao fundamental: o Mistério Pascal é único. Morte, ressurreição, ascensão e dom do Espírito com certeza aconteceram simultaneamente. Para facilitar a compreensão desse único, sublime, inefável mistério, os autores do Novo Testamento acharam por bem desdobrá-lo, conduzindo-nos a analisar separadamente seus múltiplos aspectos. João colocou a efusão do Espírito no dia da Páscoa para ensinar-nos que o Espírito é dom do Ressuscitado. E por qual motivo Lucas o coloca no contexto da Festa de Pentecostes?
Pentecostes era uma festa judaica antiga, celebrada 50 dias depois da Páscoa: comemorava-se a chegada do povo de Israel no Monte Sinai. Israel era como uma sarça que produzia só espinhos. Deus então deu-lhes excelentes leis, mas os frutos não apareceram porque a árvore continuava sendo má e “nenhuma árvore má pode produzir bons frutos (Lc 6,43-45).
Eis a Lei do Espírito: é o coração novo, é a vida de Deus que, quando penetra no ser humano o transforma e, de sarça que era, se torna uma árvore frutífera, que produz naturalmente obras de Deus.
E os trovões, o vento e o fogo? Se a lei antiga fora dada em meio a trovões, relâmpagos, línguas de fogo, como teria podido Lucas apresentar de outra forma o dom do Espírito – a nova Lei? E as várias línguas faladas pelos apóstolos? Depois de ter recebido o Espírito, os crentes começavam a louvar a Deus num clima de exaltação, quase de êxtase e pronunciavam palavras estranhas em várias línguas. Lucas serviu-se desse fenômeno num sentido simbólico para inalar o universalismo da Igreja. O Espírito é um dom que se destina a todos os homens, a todos os povos.
2ª Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13)
De onde surgem as divisões no seio das nossas comunidades? Dos dotados de boas qualidades (são inteligentes, fortes, têm boa saúde, boa formação intelectual. . .) em vez de colocar suas qualidades a serviço dos irmãos, como se comportam? Começam a pretender ser “gente importante”, exigem maior respeito, têm a convicção de ter direito a privilégios, querem ocupar os primeiros lugares. E é desse modo que os ministérios da comunidade, de oportunidades de servir se transformam em instrumentos para impor-se aos demais, para promover a si mesmos..
Na comunidade de Corinto os cristãos não eram melhores que os de hoje, cometiam os mesmos pecados, tinham os mesmos defeitos. Na verdade estavam divididos por causa dos diversos carismas (dons), que cada um tinha recebido de Deus.
Paulo escreve a esses cristãos para lembrar-lhes que: os cristãos formam um só corpo, composto de muitos membros. Cada membro deve cumprir sua função para o bem de todo o organismo. Assim acontece com os diversos dons dos quais está dotado cada membro da comunidade: servem para que cada um possa manifestar aos outros o seu amor, mediante a prestação humilde de serviço.