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Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

A Campanha da Fraternidade (CF) deste ano de 2021 é ecumênica, junto com as outras comunidades cristãs não católicas. Isso é ocasião para algumas reflexões sobre o que é o ecumenismo, seu alcance e seus limites.
O Decreto Unitatis Redintegratio nos ensina: “Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos é um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II. Pois Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja. Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo. Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes, como se o próprio Cristo estivesse dividido. Esta divisão, porém, contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura… Para estabelecer esta Sua Igreja santa em todo mundo até à consumação dos séculos, Cristo outorgou ao colégio dos doze o ofício de ensinar, governar e santificar. Dentre eles, escolheu Pedro, sobre quem, após a profissão de fé, decidiu edificar a Sua Igreja…”
“Nesta una e única Igreja de Deus já desde os primórdios surgiram algumas cisões… Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado. Aqueles, porém, que agora nascem em tais comunidades e são instruídos na fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor. Pois que creem em Cristo e foram devidamente batizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. De fato, as discrepâncias que de vários modos existem entre eles e a Igreja católica – quer em questões doutrinais e às vezes também disciplinares, quer acerca da estrutura da Igreja – criam não poucos obstáculos, por vezes muito graves, à plena comunhão eclesiástica. O movimento ecumênico visa a superar estes obstáculos. No entanto, justificados no Batismo pela fé, são incorporados a Cristo (Cfr. Conc. Florentino, ses. VIII, Decr. Exultate Deo), e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor (Cfr. S. Agostinho, In Ps. 32, Enarr. II, 29). Ademais, dentre os elementos ou bens com que, tomados em conjunto, a própria Igreja é edificada e vivificada, alguns e até muitos e muito importantes podem existir fora do âmbito da Igreja católica: a palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis. Tudo isso, que de Cristo provém e a Cristo conduz, pertence por direito à única Igreja de Cristo”.
“… Seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma… Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. Act 17,30-31) (Papa João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris Missio, n. 11). Esta verdade de fé nada tira ao fato de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista ‘imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que ‘tanto vale uma religião como outra’ (Papa João Paulo II, ibidem n. 36). Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objetivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação (Papa Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, Denz 3821)” (Declaração Dominus Iesus, 21 e 22).
Dom Antônio de Castro Mayer, padre conciliar, em sua Instrução Pastoral sobre a Igreja (2/3/1965), falando das “religiões chamadas cristãs, que se constituíram em virtude de um abandono da Casa paterna, ensina: “Nelas também a misericórdia de Deus mantém esparsas riquezas – como Sacramentos, sucessão apostólica, Sagradas Escrituras – que pertencem à verdadeira Igreja de Deus, e devem servir como ponto de partida para um retorno ao seio da família”. E, falando sobre o Ecumenismo do Concílio e advertindo contra o irenismo, escreve: “Devemos levar o mais longe possível a nossa caridade com os irmãos separados. Sem esquecer a condição de ‘separados’, isto é, afastados da verdadeira Igreja de Cristo, devemos ter presente a todo momento sua prerrogativa de ‘irmãos’, e esforçarmo-nos por utilizar os pontos que justificam o apelativo de ‘irmãos’, para leva-los a uma reflexão mais profunda sobre as realidades cristãs que ainda possuem, a fim de que as compreendam melhor, e percebam que elas só adquirem sua verdadeira autenticidade na Igreja Católica” (Carta Pastoral a propósito da aplicação dos Documentos promulgados pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, 19/3/1966).

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